quarta-feira

A porta fechou-se


Ao estrondo barulhento e seco resultante do forte puxão que sempre tive de dar para que a minha acção fosse bem sucedida seguiu-se uma escuridão pouco habitual no hall do andar, junto ao elevador. Curiosamente, tanto a porta de incêndio se fechou como a luz da escadaria se apagou no momento exacto em que a porta bateu, pela última vez puxada por mim. A porta fechou-se. Tinha de se fechar. Um dia, mais tarde ou mais cedo, teria de acontecer. E aconteceu. Sem pompa, sem “circunstância”, sem glamour, sem tempo para longas despedidas nem lágrimas nostálgicas. Sem nada. Fechou-se e pronto. Ficou escuro, rodei a chave, também pela última vez, entrei no elevador e desci. No momento nem me apercebi que, ao fechar a porta do meu “3-torto-B”, estava a fechar muito mais do que isso. Mas, na verdade, agora que já passaram umas horas, vejo que fechei a porta do passado que até aqui me trouxe, como pessoa e homem. Para lá da porta (ou perdidos no escuro do hall) ficaram os meus anos de estudante, o dia da minha licenciatura (muito embora o papel em que rascunhei “Já sou Doutor!” tenha vindo comigo), a minha última Queima da Fitas e os meus primeiros passos na carreira profissional. A porta fechou-se e com ela todos os momentos e emoções que para lá dela vivi. São agora recordações sem suporte (fisicamente) visual. Memórias que (tal como o papel do rascunho pós-licenciatura) levarei comigo, vá para onde for. O “3-torto-B” é agora “História” minha. Algo como uma peça de museu, guardado numa sala privilegiada da minha mente, com boas áreas e janelas que lhe dão uma luz muito especial. Antes de sair e puxar a porta, voltei a entrar, dois passos só, e imaginei o gato a correr pela casa. Foi a única imagem que me permiti recordar da casa que me viu fazer-me homem, no fundo. Será essa – perdoe-me quem por lá passou – a imagem da MINHA casa, que hoje deixei. Esta lágrima que agora quer cair não a vou deixar marcar a cara. A Coimbra voltarei se a frustração tomar conta de mim ou se, pelo contrário, surgir uma promoção irrecusável. Noutro qualquer cenário, penso que a página dedicada à cidade do Mondego (e, claro, dos estudantes) será só mais uma (talvez a mais importante) num “livro” – espero que bonito – de viagens e percursos que terei calcorreado ao longo da vida. A porta fechou-se e a casa ficou vazia… de mim. Poucas ou nenhumas são as marcas da minha passagem por lá. Uns cortinados, um sofá praticamente destruido pelo gato, uns suportes de molduras de onde saíram as fotos da cidade como eu a gosto de ver e da sobrinha sentada no chão a apontar para o tio que captava o momento, no dia do 1º aniversário… Pouco mais. Do dia, da hora, do instante do estrondo da porta fica o… nada. Saí, fechei a porta com força, rodei a chave, entrei no elevador e desci. Adeus, casa minha!... Espero que fiques em boas mãos e faças tão feliz quem te venha a encher de outras vidas e momentos. De mim ficas vazia… e assim continuarás.

Tudo o que sou e fui

Tudo o que sou e fui está neste momento amontoado numa garagem, algures na cidade de Coimbra. Não no centro, não na periferia, mas sim mais ou menos nos limites da cidade (no lado “mau”, digamos… de maus nome e fama, para ser mais exacto). Está lá. Tudo o que sou e fui. No fundo, tudo o que sou e fui não passa de uma mescla de móveis que fui adquirindo ao longo do tempo, consoante as necessidades, papeladas “coleccionadas” aqui e ali (ou, leia-se, em trabalho e não só), souvenirs vários que marca(ra)m a minha presença em sítio “x” em hora “y”, documentos próprios ou de companhias de electricidade, gás, águas, telefone, net e televisão por cabo que “gentilmente” me foram enviando contas para pagar, K7’s, cd’s e discos ouvidos vezes sem conta e outros que nem tanto, roupas velhas, novas e assim-assim, cartas recebidas, cartas nunca enviadas, cartas felizes e cartas menos bem dispostas, que fala(va)m de banalidades, de amizade, de futriquices ou até do chamado amor, por vezes feliz, por vezes simplesmente impossível. Tudo o que sou e fui está, então, enfiado numa garagem. No entanto, tudo o que sou e fui pode, muito em breve, mudar de lugar. Estará nas mesmas caixas e sacos – é certo – só que num sítio diferente. Qual? Não sei bem. Mas é muito provável que tudo o que sou e fui se mude nos próximos dias. Não gosto dessa sensação. A de saber que tudo o que sou e fui anda(rá) “perdido” entre um lugar e outro, sem destino certo, até que eu próprio “assente arraiais” definitivamente. Mas pronto. Tudo o que sou e fui está neste momento assim e assim ficará até esse outro momento. Há é que esperar por ele… nada mais. Tudo o que sou e fui pode estar enfiado numa garagem mas algo há que transporto comigo e não amontoo nem fecho seja onde for. É que tudo o que sou e fui é também o riso da minha sobrinha que, cumplicemente, corresponde às minhas “turras” e aos meus “naniz” – brincadeiras que só faz comigo (ou seja, nas raras vezes em que estamos juntos). Sinto, quando estou com ela, que também esse instante é um pouco de tudo o que sou e fui (e espero ser). Tal como naquela conversa noctívaga e completamente fora d’horas, na tasca, com o dono que também é meu amigo. Tudo o que sou e fui está nessas cervejas, nesses tremoços, nesse saber (em primeira mão) que ele vai ter novo negócio na Figueira, nesse ouvir das histórias do cicloturismo, da última subida até à Torre da Serra da Estrela (devidamente documentada com fotos) e até das férias na zona de Tróia com pernoita na carrinha. Tudo o que sou e fui também é (e foi ) isto. Estes dois dias em que voltei a Coimbra para me “arrumar”/atafolhar numa garagem a título (muito) provisório e voltar a descobrir-me no riso da minha sobrinha e em dois dedos de conversa com o dono de uma tasca junto à Universidade, onde os finos me continuam a saber melhor do que em qualquer outro lugar no mundo.

sexta-feira

Hoje não chove...


...mas há um céuzinho tipo-Simpsons, ...
... o que também é muito bom.

quarta-feira

Chuva de Verão


Aquela que, por muito que incomode, que nos obrigue a correr para o carro e que nos molha a roupa leve dos dias quentes (que se cola ao corpo em menos de nada... e em menos de meia dúzia de pingos caídos), pouco mais nos afecta, até porque traz com ela aquele cheirinho à terra seca acabada de molhar. E isso faz esquecer tudo o resto. O incómodo, a roupa colada ao corpo e a inesperada corrida para o carro. Chove no Verão. E quê?... Não é o fim do mundo! E se um dia de chuva nos obrigar a ficar em casa em vez de ir para a praia? E se tivermos de conduzir mais devagar, porque o asfalto está escorregadio? E se o fresquinho substituir o "bafo" de calor habitual por esta altura?... É só um dia, caramba!... E um dia de chuva no meio do Verão, acho eu, só valoriza mais o prazer que os dias quentes (de outra forma curriqueiros) nos proporcionam.

terça-feira

São mãos que...

...deixam marcas no meu coração.

quarta-feira

Se calhar...

...fico por estas bandas mais uns tempitos...
...(só) para ver as vistas...

segunda-feira

De novo, o Inferno

Estou longe de ser insensível a imagens de incêndios, a relatos de incêndios e até ao cheiro dos incêndios. Passei demasiadas horas (dias…) no meio de pinhais, eucaliptais, pastagens secas, escarpas, encostas, casas e arrumos devorados por labaredas de um fogo (ele, sim, insensível) que queima, mata e destrói tudo o que pode. Tive, durante semanas a fio, toda a roupa em casa a cheirar a fumo e dormi muitas nas “ilhas” de edição, ao fim de noites sem descanso a trabalhar ao lado dos bombeiros (e até em sítios onde eles nos aconselhavam a não ir). Por muito fascinante que seja para mim trabalhar no meio dos incêndios, não posso deixar de pensar que em poucos minutos ele arruína a vida de quem levou anos a construir e rechear uma casa, a esperar pacientemente pelo crescimento dos pinheiros e, de um momento para o outro, perdem tudo o que têm… por vezes… até a vida.


PS: Em breve, direi aqui a razão pela qual acho que os incêndios recomeçaram agora em força. Sim... tem a ver com o aumento das temperaturas... mas se calhar essa nem é a causa mais premente...!

Onde pára Lx...?

Como diria Represas em “125 Azul”…

«Não sei mesmo se Lisboa não partiu para parte incerta»

quinta-feira

Teoria da Auto-Estrada


Faz cada vez mais sentido a minha (já algo velha) "Teoria da Auto-Estrada". Há muito que acredito que as vidas podem ser comparadas a percursos de auto-estrada. Cada um de nós segue o seu rumo, paga as suas portagens, faz paragens e saídas pontuais para descanso ou alteração da rota, percorre o caminho à velocidade que melhor lhe convém... Tudo isto com o objectivo de, por fim, alcançar o seu destino. Certo é que, fazendo cada um o seu próprio percurso, todos os outros fazem o mesmo, no mesmo sentido, em sentido inverso ou em qualquer outro sentido/direcção. Muitas vezes, porém, as vidas/percursos cruzam-se. Ou porque há uma uma saída (ou paragem) feita a um mesmo momento, ou porque uma vida segue algo mais lenta (ou rápida) do que outra, sucedendo o inevitável encontro, ou mesmo porque (em sentidos contrários) as vidas cruzam-se ainda que sem se tocar (há sempre um separador em todas as auto-estradas, certo?). Assim é - parece-me - a vida. E cada vez mais me parece que assim é.

terça-feira

Entr'Agosto


1 de Agosto. Primeiro dos meus últimos dias por cá. Ou então, não. É que este início de mês pode ser também o início do resto da minha vida, precisamente... por cá. A verdade é que o foleiro trocadilho do título (imortalizado por esse vulto maior da nossa música popular, que é Quim Barreiros) poderia deixar antever uma super-boa-disposição minha... mas nem por isso. Apreensão, talvez seja o termo mais correcto a utilizar. Simplesmente, porque não sei onde estarei no próximo dia 1; não sei o que estarei a fazer daqui a um mês; não sei que futuro me trarão os próximos 30 dias. Por isso... hoje "entr'Agosto", tal como entrou Março, Abril, Maio, Junho e Julho. Mas como entrará Setembro...? Enfim... não sei.