domingo

Quatro Meses


Quatro meses não são muito tempo. Ou melhor, talvez até sejam, para algumas coisas, mais ou menos importantes, mas pelo menos não me parecem a mim ser muito tempo. No entanto, reparo que muito se passou já nestes últimos quatro meses. Mudei de casa e a anterior (que é minha) cedo começou a parecer-me de outro alguém que não eu; faltava-lhe o gato, a desarrumação e o cheiro habitual; estava cheia de coisas (praticamente as mesmas coisas de quando lá vivia) mas totalmente vazia de vida. Mudei de casa e a actual, cedo começou a fartar-me; por não ser minha, por não gostar dela, pelo barulho, por ser um R/C, por ser demasiado pequena, porque o gato também não gosta muito… Mudei de emprego e à realização diária (que a sinto – muito devido a um esforço pessoal e intransmissível, proveitoso mas que muitas vezes resulta em frustração) junta-se um cansaço imenso e uma vontade louca de continuar… Paradoxal, … eu sei. Hoje é dia de folga. Um raro dia de folga. Não se torna fácil compensar o sono perdido na última semana (e nos últimos meses… que raio…), acordo mais cedo do que quero, cheira a sardinha assada e tocam os sinos da igreja do bairro (será a rebate?... será dia de boda?... hora certa não é …), o gato acorda (ou com o cheiro ou com os sinos…) e dá uma “ajuda” no meu indesejado despertar, abro a persiana para ele ir ver as vistas à janela, intensifica-se o cheiro das sardinhas (… também… já é quase hora de almoço…) e, enquanto o gato se passeia pela janela e os sinos continuam a ouvir-se ali mais acima, eu dou comigo a pensar… «Quatro meses não são muito tempo. Ou melhor, talvez até sejam, para algumas coisas, mais ou menos importantes, mas pelo menos não me parecem a mim ser muito tempo…»

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