Tudo o que sou e fui está neste momento amontoado numa garagem, algures na cidade de Coimbra. Não no centro, não na periferia, mas sim mais ou menos nos limites da cidade (no lado “mau”, digamos… de maus nome e fama, para ser mais exacto). Está lá. Tudo o que sou e fui. No fundo, tudo o que sou e fui não passa de uma mescla de móveis que fui adquirindo ao longo do tempo, consoante as necessidades, papeladas “coleccionadas” aqui e ali (ou, leia-se, em trabalho e não só), souvenirs vários que marca(ra)m a minha presença em sítio “x” em hora “y”, documentos próprios ou de companhias de electricidade, gás, águas, telefone, net e televisão por cabo que “gentilmente” me foram enviando contas para pagar, K7’s, cd’s e discos ouvidos vezes sem conta e outros que nem tanto, roupas velhas, novas e assim-assim, cartas recebidas, cartas nunca enviadas, cartas felizes e cartas menos bem dispostas, que fala(va)m de banalidades, de amizade, de futriquices ou até do chamado amor, por vezes feliz, por vezes simplesmente impossível. Tudo o que sou e fui está, então, enfiado numa garagem. No entanto, tudo o que sou e fui pode, muito em breve, mudar de lugar. Estará nas mesmas caixas e sacos – é certo – só que num sítio diferente. Qual? Não sei bem. Mas é muito provável que tudo o que sou e fui se mude nos próximos dias. Não gosto dessa sensação. A de saber que tudo o que sou e fui anda(rá) “perdido” entre um lugar e outro, sem destino certo, até que eu próprio “assente arraiais” definitivamente. Mas pronto. Tudo o que sou e fui está neste momento assim e assim ficará até esse outro momento. Há é que esperar por ele… nada mais. Tudo o que sou e fui pode estar enfiado numa garagem mas algo há que transporto comigo e não amontoo nem fecho seja onde for. É que tudo o que sou e fui é também o riso da minha sobrinha que, cumplicemente, corresponde às minhas “turras” e aos meus “naniz” – brincadeiras que só faz comigo (ou seja, nas raras vezes em que estamos juntos). Sinto, quando estou com ela, que também esse instante é um pouco de tudo o que sou e fui (e espero ser). Tal como naquela conversa noctívaga e completamente fora d’horas, na tasca, com o dono que também é meu amigo. Tudo o que sou e fui está nessas cervejas, nesses tremoços, nesse saber (em primeira mão) que ele vai ter novo negócio na Figueira, nesse ouvir das histórias do cicloturismo, da última subida até à Torre da Serra da Estrela (devidamente documentada com fotos) e até das férias na zona de Tróia com pernoita na carrinha. Tudo o que sou e fui também é (e foi ) isto. Estes dois dias em que voltei a Coimbra para me “arrumar”/atafolhar numa garagem a título (muito) provisório e voltar a descobrir-me no riso da minha sobrinha e em dois dedos de conversa com o dono de uma tasca junto à Universidade, onde os finos me continuam a saber melhor do que em qualquer outro lugar no mundo.
quarta-feira
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
Tudo o que serás é futuro e desconhecido mas, a tua luta, mais tarde ou mais cedo, será recompensada.
Enviar um comentário