Custa levantar muito cedinho com a certezinha absoluta de que não tarda se vai pegar no volante para fazer centenas de quilómetros e de que, durante dois dias, parar vai ser… mentira. Não custa fazer os primeiros 250 quilómetros a pensar que, no final dessa viajem, o K@ passa a ser o Tio K@ e vai haver beijos e baba e pirralhos a puxar a malta para mostrar os brinquedos todos e fazer muito barulho que, também ele, não custa nada aturar. Custa imenso conduzir metade do caminho na Nacional 1, por causa do estado lastimável da estrada e da tremenda falta de civismo de grande parte das pessoas que usam esse itinerário. Também custa chegar mais tarde que o previsto… precisamente por causa na EN1. Não custa ter, além dos sobrinhos, a avó à espera, desejosa de um beijo, de um mimo e de dois dedos de conversa com o neto que está longe e com quem já não fala há meses a fio. Custa saber que a velhice traz tristeza e solidão e saudade da casa e da terra que se deixou quando se rumou para o lar de idosos, tanto quanto custa saber que pouco se pode fazer para ajudar a melhorar a situação porque para oferecer só se tem palavras e uma carícia para fazer. Custa dizer adeus… Não custa (dantes custava) estar com toda a família mais próxima à mesma mesa. Custa conseguir conciliar as disponibilidades de várias pessoas à agenda super preenchida de quem só tem 48 horas para ver o máximo de amigos possível e fazer o máximo possível de recados também… e, já agora, custa pensar em ver amigos como uma “tarefa”, no meio de tantos outros afazeres. Não custa beber um bom copo de vinho tinto, a acompanhar arroz de cabidela e uma conversa; quando a isto se juntam castanhas assadas… então… ainda melhor. Custa conduzir 30 km à meia-noite, no final de um dia muito longo e com muitos quilómetros rodados; no final dessa viagem… cair na cama e adormecer não custa nada, curiosamente; acordar cedo no dia seguinte, sim, custa a valer. Seguir para almoço com mais um amigo não custa, andar às compras à cata de um escorredor de talheres nas minhas lojas de bugigangas favoritas também não custa, interromper esse raid de compras de plásticos para ir ver os sobrinhos de novo… também não custa. Mas custa tanto despedir-me deles, quase de certeza até ao Natal…! Custa faltar a um compromisso por ter outro marcado e saber que a pessoa que supostamente me esperaria nesse encontro prioritário, afinal não vai estar lá, invalidando dois compromissos de uma só vez. Não custa (muito embora as estradas sejam muito más) ir até à aldeia da infância pelo caminho tradicional e não pela estrada nova, recordando outros tempos e outros passeios. Custa entrar na casa dos avós, agora deserta, fechada, húmida, suja de pó (e algum bolor) e saber que os ratos consomem objectos que são muito mais do que objectos – que são memórias que não queremos perder. Custa entrar nessa casa de dia e sair já de noite, cerca de uma hora depois, porque não há luz na rua e fazer o caminho até ao carro com caixas e sacos pesados nos braços torna-se uma aventura. Não custa comer uma perninha de frango de churrasco antes de iniciar o caminho de regresso a Lisboa, compondo o estômago para mais duas centenas de quilómetros na Nacional 1 (outra vez a Nacional 1!!!!) e na A8, que também não é o supra-sumo das auto-estradas. Custa despedir-me dos meus pais mas eles fazem por que não custe assim tanto, já que depois se fartam de telefonar, até à exaustão, todos os dias da semana, por tudo e por nada. Não custa chegar a Lisboa, porque me sinto em casa e, logo, aconchegadinho. Custa olhar para o conta-quilómetros e perceber que foram feitos qualquer coisa como 593, entre viagens e “voltinhas”, que se somam aos 130mil que o carro já contava e isso significa que a (cara) mudança do óleo ficou, de repente e deprimentemente, bem mais próxima. Não custa rumar à cama e desligar os “motores” até ao dia seguinte, porque o cansaço ajuda. Bom…mas ajuda… ao fim da noite, porque de manhã… é tudo bem diferente. Aí… custa. Custa acordar, custa levantar, custa entrar no carro, custa entrar ao serviço,… mas não custa pensar no fim-de-semana que até pode ter custado mas, feitas as contas,… não custou tanto como isso. Se calhar, há que fazer mais destes.
terça-feira
(Não) Custa
Custa levantar muito cedinho com a certezinha absoluta de que não tarda se vai pegar no volante para fazer centenas de quilómetros e de que, durante dois dias, parar vai ser… mentira. Não custa fazer os primeiros 250 quilómetros a pensar que, no final dessa viajem, o K@ passa a ser o Tio K@ e vai haver beijos e baba e pirralhos a puxar a malta para mostrar os brinquedos todos e fazer muito barulho que, também ele, não custa nada aturar. Custa imenso conduzir metade do caminho na Nacional 1, por causa do estado lastimável da estrada e da tremenda falta de civismo de grande parte das pessoas que usam esse itinerário. Também custa chegar mais tarde que o previsto… precisamente por causa na EN1. Não custa ter, além dos sobrinhos, a avó à espera, desejosa de um beijo, de um mimo e de dois dedos de conversa com o neto que está longe e com quem já não fala há meses a fio. Custa saber que a velhice traz tristeza e solidão e saudade da casa e da terra que se deixou quando se rumou para o lar de idosos, tanto quanto custa saber que pouco se pode fazer para ajudar a melhorar a situação porque para oferecer só se tem palavras e uma carícia para fazer. Custa dizer adeus… Não custa (dantes custava) estar com toda a família mais próxima à mesma mesa. Custa conseguir conciliar as disponibilidades de várias pessoas à agenda super preenchida de quem só tem 48 horas para ver o máximo de amigos possível e fazer o máximo possível de recados também… e, já agora, custa pensar em ver amigos como uma “tarefa”, no meio de tantos outros afazeres. Não custa beber um bom copo de vinho tinto, a acompanhar arroz de cabidela e uma conversa; quando a isto se juntam castanhas assadas… então… ainda melhor. Custa conduzir 30 km à meia-noite, no final de um dia muito longo e com muitos quilómetros rodados; no final dessa viagem… cair na cama e adormecer não custa nada, curiosamente; acordar cedo no dia seguinte, sim, custa a valer. Seguir para almoço com mais um amigo não custa, andar às compras à cata de um escorredor de talheres nas minhas lojas de bugigangas favoritas também não custa, interromper esse raid de compras de plásticos para ir ver os sobrinhos de novo… também não custa. Mas custa tanto despedir-me deles, quase de certeza até ao Natal…! Custa faltar a um compromisso por ter outro marcado e saber que a pessoa que supostamente me esperaria nesse encontro prioritário, afinal não vai estar lá, invalidando dois compromissos de uma só vez. Não custa (muito embora as estradas sejam muito más) ir até à aldeia da infância pelo caminho tradicional e não pela estrada nova, recordando outros tempos e outros passeios. Custa entrar na casa dos avós, agora deserta, fechada, húmida, suja de pó (e algum bolor) e saber que os ratos consomem objectos que são muito mais do que objectos – que são memórias que não queremos perder. Custa entrar nessa casa de dia e sair já de noite, cerca de uma hora depois, porque não há luz na rua e fazer o caminho até ao carro com caixas e sacos pesados nos braços torna-se uma aventura. Não custa comer uma perninha de frango de churrasco antes de iniciar o caminho de regresso a Lisboa, compondo o estômago para mais duas centenas de quilómetros na Nacional 1 (outra vez a Nacional 1!!!!) e na A8, que também não é o supra-sumo das auto-estradas. Custa despedir-me dos meus pais mas eles fazem por que não custe assim tanto, já que depois se fartam de telefonar, até à exaustão, todos os dias da semana, por tudo e por nada. Não custa chegar a Lisboa, porque me sinto em casa e, logo, aconchegadinho. Custa olhar para o conta-quilómetros e perceber que foram feitos qualquer coisa como 593, entre viagens e “voltinhas”, que se somam aos 130mil que o carro já contava e isso significa que a (cara) mudança do óleo ficou, de repente e deprimentemente, bem mais próxima. Não custa rumar à cama e desligar os “motores” até ao dia seguinte, porque o cansaço ajuda. Bom…mas ajuda… ao fim da noite, porque de manhã… é tudo bem diferente. Aí… custa. Custa acordar, custa levantar, custa entrar no carro, custa entrar ao serviço,… mas não custa pensar no fim-de-semana que até pode ter custado mas, feitas as contas,… não custou tanto como isso. Se calhar, há que fazer mais destes.
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