Na vida, por vezes, há frases que – parecendo não ter nexo e terem vindo do “nada” – fazem um sentido imenso cerca de quatro segundos após as termos proferido. Esta é uma delas. O trocadilho – inicialmente involuntário – da “carreira” (carreira “profissional” e/ou carreira viagem) falhada por um autocarro que terá ficado aquém das expectativas é um rasgo de estupidez genial (ou genialidade estúpida, como se queira ver a coisa). Mas é um excelente trocadilho, sem dúvida. A partir dele, apetece contar a patética e desconsolada história de um autocarro que um dia sonhou ser um veículo de longo curso, luxuoso, sempre cheio de turistas bem parecidos, bem vestidos, endinheirados e muito animados, “armados” com boas máquinas fotográficas (analógicas e digitais) “até aos dentes”, rodando de cidade em cidade, passando pelos monumentos mais marcantes, as praias mais bonitas, as paisagens mais arrebatadoras e pernoitando junto aos mais luxuosos hotéis. Mas algo terá corrido mal e esse sonho não se concretizou. Um risco maldoso feito na pintura, um condutor de outro carro com um copo a mais que o terá abalroado deixando uma mossa na chapa, uma pedra atirada por um camião em andamento que lhe quebrou o vidro pára-brisas, … sabe-se lá o que lhe terá acontecido para ter acabado numa oficina de uma terreola (uma vila do interior), infecta de óleo queimado e cheiro a cuprinol e tinta esmaltada de qualidade duvidosa. O que parece certo é que o autocarro ali terá ficado por tempo indeterminado, esquecido ou não recuperado por quem o devia ter levantado, mas talvez tivesse entrado subitamente em processo de falência. Como o tempo passa – e não perdoa – o autocarro terá apodrecido, empoeirado, ficado sem travões, sem óleo, com ferrugem por todo o lado. Como o tempo passa – e não perdoa – alguém terá acabado por precisar de um autocarro para fazer transporte de velhos e crianças entre o Centro Social e a Cantina do vilarejo. Coisa de 5km de cada vez, duas… três vezes ao dia, ida e volta. Nenhum autocarro pode sentir-se bem com isto, tendo um dia sonhado ser um veículo de longo curso, luxuoso, sempre cheio de turistas bem parecidos, bem vestidos, endinheirados e muito animados. E este não terá fugido a essa regra. A grande carreira que um dia desejou ter-lhe-á passado ao lado. É pena… mas proporcionou um excelente trocadilho… ou se calhar foi o trocadilho que proporcionou uma boa história.
quinta-feira
O autocarro que passou ao lado de uma grande “carreira”
Na vida, por vezes, há frases que – parecendo não ter nexo e terem vindo do “nada” – fazem um sentido imenso cerca de quatro segundos após as termos proferido. Esta é uma delas. O trocadilho – inicialmente involuntário – da “carreira” (carreira “profissional” e/ou carreira viagem) falhada por um autocarro que terá ficado aquém das expectativas é um rasgo de estupidez genial (ou genialidade estúpida, como se queira ver a coisa). Mas é um excelente trocadilho, sem dúvida. A partir dele, apetece contar a patética e desconsolada história de um autocarro que um dia sonhou ser um veículo de longo curso, luxuoso, sempre cheio de turistas bem parecidos, bem vestidos, endinheirados e muito animados, “armados” com boas máquinas fotográficas (analógicas e digitais) “até aos dentes”, rodando de cidade em cidade, passando pelos monumentos mais marcantes, as praias mais bonitas, as paisagens mais arrebatadoras e pernoitando junto aos mais luxuosos hotéis. Mas algo terá corrido mal e esse sonho não se concretizou. Um risco maldoso feito na pintura, um condutor de outro carro com um copo a mais que o terá abalroado deixando uma mossa na chapa, uma pedra atirada por um camião em andamento que lhe quebrou o vidro pára-brisas, … sabe-se lá o que lhe terá acontecido para ter acabado numa oficina de uma terreola (uma vila do interior), infecta de óleo queimado e cheiro a cuprinol e tinta esmaltada de qualidade duvidosa. O que parece certo é que o autocarro ali terá ficado por tempo indeterminado, esquecido ou não recuperado por quem o devia ter levantado, mas talvez tivesse entrado subitamente em processo de falência. Como o tempo passa – e não perdoa – o autocarro terá apodrecido, empoeirado, ficado sem travões, sem óleo, com ferrugem por todo o lado. Como o tempo passa – e não perdoa – alguém terá acabado por precisar de um autocarro para fazer transporte de velhos e crianças entre o Centro Social e a Cantina do vilarejo. Coisa de 5km de cada vez, duas… três vezes ao dia, ida e volta. Nenhum autocarro pode sentir-se bem com isto, tendo um dia sonhado ser um veículo de longo curso, luxuoso, sempre cheio de turistas bem parecidos, bem vestidos, endinheirados e muito animados. E este não terá fugido a essa regra. A grande carreira que um dia desejou ter-lhe-á passado ao lado. É pena… mas proporcionou um excelente trocadilho… ou se calhar foi o trocadilho que proporcionou uma boa história.
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