Embora seja um grande amante do "desporto-rei", sei que não falo muito disso, nem aqui nem no InSenso Comum. Mas hoje apetece-me escrevinhar um bocadinho, à laia do jogo Rússia - Portugal, a contar para o apuramento para a fase final do Mundial 2006, que vai acontecer na minha terra-natal: a Alemanha. Ora, falo de bola por duas razões. 1) Porque o jogo de hoje está carregado de emoções. Portugal pode qualificar-se já hoje, as bancadas estarão cheias de adeptos russos a querer vingar os 7-1 de Outubro passado em Alvalade e as declarações "bombásticas" de Maniche contra um país que lhe ofereceu (muito) dinheiro mas pouca hospitalidade e, por fim, o drama de Cristiano Ronaldo, que hoje "chora" a morte do pai, já tendo mostrado a vontade de jogar para o homenagear. 2) Porque ontem vi uma reportagem que, como sportinguista, me tocou muito. Figo reencontrou-se com Cherbakov. O outrora "grande esperança" do futebol soviético (foi considerado um dos melhores jogadores do Mundial Sub-21 realizado em Portugal, que a equipa das quinas, de resto, venceu) e do Sporting esperou pela selecção portuguesa para cumprimentar o amigo (e ex-colega no Sporting) Luis Figo. Aquele aperto-de-mão...! Entre um jogador que foi já considerado o Melhor do Mundo e outro que poderia tê-lo sido (acredito) mas que está numa cadeira de rodas...! Cherba é - sempre o disse - o resultado de uma dramática sucessão de erros. Bobby Robson foi despedido do cargo de treinador do Sporting por causa da teimosia de Sousa Cintra, quando o clube estava em 2º no campeonato e tinha, sem dúvida, a melhor equipa em Portugal. No jantar de despedida ao treinador, organizado pelos jogadores, a juventude de muitos deles "veio ao de cima" e Cherbakov acabou por ter um grave acidente de viação que o deixou paraplégico. Dias depois, o Sporting perdeu 6-3 em Alvalade com o Benfica (Figo marcou um golo e gritou "Cherba! Cherba!") e, para mim, como adepto, o futebol nunca mais foi o mesmo. Não pelos 6-3 (que, embora "duros", são só um resultado de um jogo) mas sim pelo drama de um jovem que perdeu a chance de poder ser aquilo que sempre desejou, demonstrando que os jogadores de futebol não são "Super Homens" (bem longe disso). Depois disso, Figo avançou para o destino que o aguardava e foi o jogador mais idolatrado do planeta. Cherba, pelo contrário, nunca chegou a ser verdadeiramente o "mago" que prometia em campo até àquele dia em que, alcoolizado, se despistou em Lisboa. Encontraram-se ontem, numa prova inegável de que um pequeno erro pode ter consequências de dimensões verdadeiramente impensáveis...