domingo

Jô "fadou" e disse...

A RTP Memória pode não ser um canal em que tudo interesse (longe disso...), mas de quando em vez lança-nos umas pérolas para o permanente chiqueiro que é o nosso espectro televisivo [e mal de mim falo também...].
Há pouco, fui surpreendido por um "Fado Falado" («...Se o fado se canta e chora/Também se pode falar...», ouvia-se no poema)... interpretado por Jô Soares (repito... JÔ SOARES) num programa de humor de 1981, da autoria de Nicolau Breyner e Badaró (que será feito dele...?), com participação de outros humoristas da altura.
Foi uma surpresa fantástica.
Jô falou (e "fadou") eu português sem sotaque, com os "érres" bem pronunciados, sem os "êiz" em vez de "ês" e sem "au" em vez de "al". Tudo perfeitinho.
Na verdade, se não fosse a presença do Gordo no ecran da minha tv, eu não teria parado o zapping para me quedar a ouvir o poema de Aníbal Nazaré e Nelson de Barros, outrora ouvido pela voz de Villaret. Fiquei pregado a "ouver".
Ao mesmo tempo que me deliciava com o momento, pensei... quão insignificantes me parecem as discussões acerca de como se cantar o fado... ou de quem o canta/pode cantar. Nisso, já vi um pouco de tudo. Desde a resistência a ver estrangeiros e até pessoas "de cor" a cantar a nossa "canção", até a "lutas de galinheiro" em que mulheres forçam Coimbra a aceitar vozes femininas a cantar o fado da cidade dos estudantes e a academia a proíbir que as guitarras toquem para que "elas" cantem o fado. Tudo isso é parvo.
Ouvir o Jô Soares esta manhã fez-me perceber que algo (como o fado) só é verdadeiramente um simbolo nacional quando os "outros" NÃO o tentam adulterar para o tornar deles e sim o tomam como um bom exemplo, honrando-o e respeitando-o. Foi ISSO que eu vi e ouvi.
Respeitassem os portugueses aquilo que de bom têm neste país e não se perdia tanto tempo a discutir o sexo dos anjos...

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