sexta-feira

Estou triste...



Estar genuinamente triste é uma daquelas coisas que evitamos a todo o transe muito embora – na verdade – raramente o consigamos evitar, quando surge. Dói, entorpece-nos o corpo e a mente, confunde-nos os sentidos e estimula-nos os nervos quase ao expoente da loucura. Hoje estou genuinamente triste. E estou dorido, entorpecido, confuso e nervoso. Não gosto. Aliás, desconfio que ninguém goste. Mas é um facto que, mais tarde ou mais cedo, num dia ou no outro, qualquer um pode estar genuinamente triste (e, consequentemente, dorido, entorpecido, confuso e nervoso). É um (triste – por que não dizê-lo?) facto da vida. Estar triste… passa. É o que usualmente se diz e até nem deixa de ser verdade. Não invalida, porém, que enquanto se está triste o tempo (o tal que tudo cura) pareça nunca mais passar, arrastando-se de tal forma que a eternidade parece… pouco tempo. Não gosto de estar triste. Transforma-me num “eu” que não sou eu. Ou melhor, até sou. Mas preferia que esse “eu” não fosse eu… Enfim. O mais cómico humorista parece de repente perder o jeito para contar piadas, anedotas e até os trocadilhos (normalmente geniais) parecem não fazer grande sentido saídos da boca do comediante. A paisagem bucólica e inspiradora passa a ser melancólica e solitária. Aquele prato favorito, saboroso e suculento, deixa amargos no paladar e a água não mata a sede. Tudo vira do avesso; a roupa não assenta bem nos ombros, nos braços, nas pernas e as meias enrolam-se entre os dedos dos pés. Não há vontade de trabalhar; só de ficar parado. Lugar nenhum é agradável, situação nenhuma é cómoda, hora nenhuma é a ideal, cheiro nenhum é tolerável, toque nenhum é desejável… ou até aconselhável. Estou triste, dorido, entorpecido, confuso e nervoso. Não gosto. Ninguém gosta, aliás. Mas a tristeza é egoísta. É sempre maior e mais marcante aquela que nós sentimos. A dos outros há-de ser sempre menor, menos importante. Pelo menos, é assim que nos sentimos quando andamos cabisbaixos e o mundo parece insistir em fazer mais peso, tanto que quase nos empurra o nariz e os ombros para o chão. Passa. Passará, certamente. Mas não vejo quando nem como. Nunca é possível saber isso. E mesmo que seja, na verdade, nunca “queremos” saber. Porque estar triste também é “querer” estar triste. E por muito que não queira… parece que sim… que “quero” estar triste. Estou triste… e não gosto.

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