domingo

Rua das Parreiras, nº 1

Tantas vezes passei por essa rua que acabei por reparar no que era mais óbvio: a rua começa com uma casa abandonada. Só mesmo a estranha "cegueira" que nos assola quando passamos muitas vezes no mesmo sítio pode explicar por que razão nunca me tinha apercebido desse "nº 1" da Rua das Parreiras, casa um dia abastada certamente... mas hoje em dia de portas e janelas cimentadas para evitar que intrusos se apoderem de algo que não é deles. Pensado bem, mesmo recorrendo aos tais tempos de "cegueira", não me lembro de alguma vez por ali ter visto alguma pessoa... alguém que desse uma "vista de olhos" pela velha casa de dois andares (três, se contarmos o rés-do-chão... ou até quatro, se para baixo daquela portada elevada a cerca de metro e meio da estrada estiver uma cave, que acredito exista mesmo). A casa está abandonada. Não é de ninguém. Ou melhor... talvez seja... e é... de alguém. No entanto - para ser mais correcto - eu diria que a casa afinal até tem donos... mas que não são "falantes" como nós. São gatos. Muitos. Que bem ao estilo de cães fiéis ao lar do seu dono, guardam a porta do "nº 1" das Rua das Parreiras. Ao passar lá - hoje, ao fim da tarde - quatro pares de olhos felinos fitaram-me com ar de poucos amigos. Passei devagar, para admirar esse belo espectáculo. E devagar me seguiram os olhos e as cabeças desses quatro peludos "guardiões do castelo", tentado perceber se eu seria uma ameaça ou então só mais um dos curiosos que, um dia, "recuperam a visão" e também reparam no óbvio. Pensando bem, e recorendo novamente a esses tempos de "cegueira", só me lembro mesmo de por ali ter visto gatos como que a dar uma "vista de olhos" pela velha casa de dois andares. Fazendo as contas, sei que já há muito lá passo. 10 anos, talvez. E sendo a rua colada a uma outra de grande tráfego rodoviário, acredito - com pena - que nem todos os gatos sobrevivam muito tempo ali. Mas a casa nunca está verdadeiramente abandonada. Lá estão, revezando-se... quem sabe. Ou então sucedendo-se, como se de uma dinastia de fiéis guardiões se tratasse. Certo é que o varandim da portada está sempre seguro por uns quantos pares de olhos felinos que fitam com ar de poucos amigos quem entra ou sai da Rua das Parreiras. Assim é há muitos anos. E hoje, que reparei no óbvio, gostei de perceber que esse "não-óbvio" é hoje a essência (bonita, acho eu) de uma casa um dia abastada... que é guardada por autênticas "brigadas" do mais nobre dos animais.

1 comentário:

Lídia Amorim disse...

Gostei deste teu post** Parabéns! Não me conheces mas se o kiseres vai até ao meu blog! manda um comment... jokas!