Exceptuando uma espécie de fobia que nutro por tarântulas (algo que, no entanto, está ainda por provar, visto que nunca estive sequer perto de uma), vejo-me como alguém com medo de pouca coisa. Não tenho grande medo de morrer, por exemplo (acho que aquilo que sinto pela minha vida é o que todos os animais sentem: instinto de sobrevivência - é melhor viver que morer). Tenho mais medo que quem me é próximo morra e essa falta me faça profundamente infeliz (é uma espécie de temor egoísta, eu sei). Mas medo, medo... eu sei que tenho um. Grande, enorme, insustentável mesmo. Não ter talento é uma coisa que me faz ficar acordado uma noite inteira, duas noites inteiras, um mês inteiro... uma vida inteira. Não ter talento, para mim, significa que não passarei de um tipo... bom naquilo que faz. Simplesmente... bom. Não quero forçosamente ser o melhor de todos os que, como eu, façam o que eu faço. Quero é fazer o que faço de forma brilhante, sem erro, sem mácula e com o reconhecimento de quem tenha por missão rceber e (consequentemente) avaliar a qualidade daquilo que fiz. Chorei ao ver a cena das canetas no final do filme "A Beautiful Mind" por temer que não venha a ter, um dia, esse momento de verdadeiro reconhecimento das minhas qualidades, pelo facto de não as ter. Tenho medo de pensar que tenho talento e de não o ter na verdade. É um medo que me consome, que combato, mas que me vence sempre, em cada batalha levada a cabo entre mim e ele, embora eu volte à luta vezes sem conta... É extremamente complicado saber que se sabe fazer até várias coisas bem feitas mas não se ser brilhante, não se ser mesmo muito bom e ser só... bom,... bonzinho. Preciso de saber, sinceramente, se sim ou se não; se tenho talento ou nem por isso. Ser só bom não me basta. E não ser tão bom quanto quero é o maior dos meus medos.
PS: Vem isto à laia de um daqueles videos que me põem com pele de galinha e com uma lágrima a escorrer cara abaixo. Este senhor é vendedor de telemóveis, tem um dente partido e isso é só um dos aspectos da sua pobre imagem. O resto é... talento. Puro. E reconhecimento. Mesmo que o homem não soubesse bem o que era talento... nem reconhecimento. E o video é bonito por isso. Sorte a dele... porque não pensa como eu...
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