Na vida (sabemos que podem existir mas nunca contamos com eles) há momentos que nos supreendem com um peso imenso, de algo que nos transcende. Nestes últimos dias, em Nuremberga, percebi que 50 anos não bastam para apagar (ou até atenuar) as marcas de um passado sombio, tenebroso. Hitler declarou a cidade como sede do Partido Nazi, mandou cosntruir um estádio de dimensões megalómanas (com capacidade para 400 000 - quatrocentas mil! - pessoas), para ali discursar aos "hipnotizados" seguidores da ideologia ariana. Subir à Zeppelin Tribune, silenciosa, abandonada, onde numa placa municipal se lê "Entre por sua conta e risco", é suficiente para perceber que os alemães respeitam o peso de uma História que fazem questão de não destruir para que as gerações vindouras saibam aquilo de que o Mal é (foi) capaz.
Hitler discursou deste pulpito, mobilizou milhares (milhões) e, por causa desses discursos, livros foram queimados, humanos assassinados, torturados e humilhados... e tantas outras atrocidades cometidas. Apenas as suásticas foram retiradas. O resto foi deixado estar, à espera que o tempo se encarregue de deitar por terra o que Hitler criou. A única intervenção humana do pós-Guerra foi fechar grande parte das bancadas com rede e arame farpado. As bancadas que um dia cairão (ou não) sob a erosão do tempo, da meterologia, do que for. E a estrada que "entra" estádio dentro (como se vê na foto que abre o post) é agora a recta da meta num autódromo citadino (chamado Norisring). Nada mais. À noite, não há iluminação. Em hora alguma do dia há um guia turístico que inclua este local nas rotas dos forasteiros, que só lá vão se quiserem muito ir (mas para isso terão de pagar o seu próprio transporte). Estar ali, na Zeppelin Tribune, obriga-nos a um silêncio sepulcral, força-nos a sentir um desconforto estranho, uma vergonha que não é (só) nossa, uma culpa que nunca pensámos sentir. Posso dizer que aprendi alguma coisa nesta viagem. Talvez preferisse, comodamente, não ter tomado contacto com a sensação da presença do Mal. Mas isso fez-me valorizar o Bem... não esquecendo um Passado que não vivi mas que agora sei por que não quero viver.
Por isto.
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