Ando parvo. Não é de agora, eu sei. Mas de quando em vez a coisa bate mais forte. Agora dei em dizer (já aconteceu uma data de vezes) «... ainda o matam vivo!». Pronto... crueldade da própria expressão à parte (porque a malta até diz isso em contexto de galhofa, acerca de qualquer coisa sem importância)... é simplesmente parvo misturar expressões de tal forma que depois dá uma espécie de stupid-shake. Se continuo com isto ainda me matam vivo! É o que é...
quarta-feira
Admissão de Parvoíce
Ando parvo. Não é de agora, eu sei. Mas de quando em vez a coisa bate mais forte. Agora dei em dizer (já aconteceu uma data de vezes) «... ainda o matam vivo!». Pronto... crueldade da própria expressão à parte (porque a malta até diz isso em contexto de galhofa, acerca de qualquer coisa sem importância)... é simplesmente parvo misturar expressões de tal forma que depois dá uma espécie de stupid-shake. Se continuo com isto ainda me matam vivo! É o que é...
segunda-feira
Dinamarca
Chegar a um território estranho com a notícia da morte de um colega de profissão não é, de todo, a melhor forma de iniciar uma jornada de trabalho intenso e com muitas coisas novas para descobrir, aprender e fazer (tudo isto simultaneamente e sem grande tempo para pensar). Aconteceu, mal o avião aterrou em Malmö, na Suécia (mesmo antes de um autocarro nos levar até Copenhaga, uma ponte e alguns – poucos – quilómetros mais “à frente”). A notícia chegou via telemóvel, via roaming, via voz rouca e trémula – acredito – de um coordenador de informação desportiva para um seu colaborador, enviado ao mesmo trabalho que eu, e escureceu uma manhã clara, solarenga e surpreendentemente quente para a Escandinávia. Ouviu-se, calou-se, chorou-se e seguiu-se com o programa do dia, que havia muito para fazer. De Alcochete para Lisboa… perdão… da Suécia para a Dinamarca vai uma ponte de distância. 14km, diz a guia. Parece menos… mas tudo bem. Sabe é lindamente ver o verde da outra margem. Aquele verde de novo…! O mesmo que eu via nos campos germânicos na mais tenra das tenras idades e que sempre me chamou para regressar ao norte da Europa logo que possível. Foi-o agora… 25 anos depois, mas o fascínio - apesar de ir em trabalho - é exactamente o mesmo dos tempos de miúdo. Copenhaga. Bicicletas. Muitas bicicletas. Todas com prioridade sobre tudo e todos nas ruas da cidade, dividida entre o velho e o novo, entre o conservador e o ousado, entre o sóbrio cinza-escuro e o colorido das cores mais berrantes. Belíssima a cidade que cheira às salsichas cozidas e grelhadas nas roulottes espalhadas pelas ruas, em que não se ouvem buzinas de carros (não há engarrafamentos nem acidentes de viação) nem gente a falar alto ou a insultar seja quem for. Andar pelas calçadas é um prazer… já esperar todo aquele tempo no semáforo dos peões até que fique verde é uma chatice imensa. É que, para nós, “portugas” habituados a desrespeitar o sinal sempre que não passam veículos que nos levem à frente, é simplesmente incompreensível esperar tão pacientemente que o verde “caia”, mesmo que nem um carro tenha passado por ali… mas é esse o preço do zelo nórdico, ao qual também é necessário fazer a devida vénia e dar nota 20 pela lição de civismo. As pessoas primam por uma simpatia não muito expansiva e por um desconcertante descomplexo em tudo o que fazem na rua. Fala-se ao telemóvel, escrevem-se SMS’s e bebe-se cerveja enquanto se guia uma bicicleta, sob o sol da praça principal, sobem-se as saias e descem-se as alças das blusas para aproveitar o bronzeado extra que nunca virá mas que se tenta apanhar… assim… na boa. O inglês parece quase língua-mãe (embora acredite que Hans Christian Andersen não achasse grande piada a isso) e o calor que senti durante a minha estada sei que não vai continuar por muito e que o longo Inverno começa daqui a dias. Que pena não estar lá para ver o meu nariz ficar vermelho e o vapor da respiração me sair pela boca… mas um dia lá voltarei, para visitar a cidade e vê-la com os olhos de ver com que agora não pude e da única forma que aceito fazê-lo: de bicicleta, claro. Sim, o trabalho correu (relativamente) bem. Aprendi muito e valorizo a experiência como capital adquirido para um futuro pessoal e profissional melhor. Quanto ao colega que finou, lembro-me dele sempre que me lembro da Dinamarca. Que mais não seja, a morte dele possibilitou-me perceber que sou afortunado por ter estado ali, por ter visto, ouvido e sentido tudo como senti. Obrigado, João. Este texto é para ti.
quarta-feira
Full House
Diz-se "Full House" quando há muito de alguma coisa. Muita gente em casa ("Full House" = "Cada Cheia"), muita coisa para fazer, muita mercadoria num porão pequeno, muita coisa em que pensar... enfim... muito de alguma coisa. Hoje é/foi, para mim, um dia de "Full House". Consegui em apenas uma manhã fazer os contratos de água, luz e gás para a casa nova (cada coisa feita num lugar diferente... "ambos os três" - demasiadamente - bem espalhados pela cidade de Lisboa). Transpirou-se... mas o esforço valeu bem a sensação do dever cumprido na obtenção dos primeiros três contratos de bens de 1ª necessidade que fiz na vida. À tarde, trabalho... e uma proposta de... mais trabalho (pago autonomamente e para uma grande organização), vinda "do nada". Pensei... «Boa! As horas extraordinárias feitas estes seis meses começam a dar frutos!...». Não mais de uma hora depois disso, fiquei a saber que, afinal, não vou poder fazer as primeiras das tais horas extra que me tinham sido propostas... porque vou viajar para longe em trabalho, na minha estreia como enviado especial. Pelo meio, a atribuição da responsabilidade de promover um grande evento, dando a cara e entrevistando uma grande figura do desporto nacional. Isto, um dia antes de eu próprio participar no tal evento, noutra estreia, como "repórter motard". Uma emoção!... Hoje é/foi, para mim, um dia de "Full House". Um dia muito cheio... de muita coisa... de muitas coisas. Sendo que eu sei que trabalhei para todas elas.
terça-feira
10 Graus às 10 da manhã
O fato e os óculos quadrados davam o mote. A pasta dos documentos, colocada no chão, encostada a uma das pernas da mesa, compunha a imagem. O cabelo grisalho e o bigode farto a condizer conferiam-lhe um ar de avozinho. Mas algo não estava bem. Passavam poucos minutos das 10 da manhã e isso claramente perturbava o senhor, que ia mirando o relógio vezes sem conta. O que esperava, não sei. Nem sei mesmo se esperava o que quer que fosse. O que sei é que olhava muito para o relógio e que havia nervos ali, porque os pés, tal como o pulso esquerdo, não paravam quietos. Mais uma olhadela para o relógio. Mais um suspiro nervoso. O ar de avô mantinha-se, muito embora aquela agitação tirasse toda a possível simpatia dessa imagem. Na pastelaria iam entrando e saindo pessoas, sós e acompanhadas. Quase todas pediam café ou um pastel para o pequeno-almoço. O “avô” não pedia nada. Olhava para o relógio, simplesmente. Para esses que pediam café não olhava; só mirava a janela como quem olha para o vazio… e, claro, o relógio. De repente, e após mais um relance para os ponteiros que se moviam no aparelho do pulso, levantou o dedo. O empregado veio rapidamente, fez um aceno de concordância com a cabeça, foi até ao balcão e voltou. Deixou os 20cl de 5,4º em cima da mesa e foi-se. A imperial não durou 1 minuto. Bebida praticamente de “penalty”, a cerveja desapareceu num ápice. O dedo levantou-se de novo. Repetiu-se a prontidão do empregado e a rapidez na satisfação do pedido. Nova imperial, bebida num instante. O pé parou. Os olhos ficaram de vermelho raiados e para o relógio não mais olharam. O homem fumou dois cigarros, pegou na pasta dos documentos, levantou-se, ajeitou o fato e certificou-se da correcta posição dos óculos quadrados no rosto. Deixou o dinheiro na mesa e saiu. Não o vi mais. Não sei para onde foi. Mas acredito que é assim que começa todos os seus dias. Como qualquer outro doente alcoólico.
domingo
The First & Last
A primeira foi também a última refeição cozinhada nas já afamadas (mas sem condições) águas furtadas de Oeiras. Esparguete e carninha. Feito no velho (diria de outra forma, para lhe fazer justiça... ancião) Junex, aceso também ele no primeiro e no último dia de passagem pelo "loft" das formigas oeirenses. Para satisfação da curiosidade do leitor, direi que o resultado final foi saborosamente positivo. Digamos que é um "marco" do meu estranho episódio habitacional, esta "first & last meal in the attic".
Happy Cat
Acho que foi sempre assim. O meu gato sempre foi divertido, curioso, explorador, ... bruto mas com muita graça. Penso nisso agora. Porque, em dia de tratar de (mais) uma mudança, reparo que o J já se adaptou ao sítio onde viveu a última semana e pouco. Ou seja, já brinca e já apresenta aquele ar descontraído e maroto que sempre teve. Ou melhor... nem sempre. Em três anos, vi-lhe apenas uma vez uma expressão de tristeza e desorientação. Foi quando estive enfermo por causa da apendicite. Aí, partilhou comigo a dor, abdicou das maldades habituais, parou com os pulos e com as arranhadelas e simplesmente se deitava ao meu lado na cama de onde eu raramente saía. O "barómetro" para me aperceber se ele está satisfeito - acredite-se ou não - está nas autênticas lutas de "wrestling" que se desenrolam por "dá cá aquela palha" todos os dias e onde, cada um com as suas armas (dentes e unhas, dele; peso, tamanho e força, minhas) tenta ser melhor que o outro. Agora, e apesar de eu não gostar da "casa" onde vivo por não ter as mínimas condições, ele dá mostras de que não se importa nada. Bom... só não gosta nada é das viagens entre casas (que têm sido muitas, ultimamente). Mas uma vez instalado, o menino arranja qualquer coisa para brincar [vide imagem inclusa, de quando o J tinha três meses de idade] e à hora a que escrevo este post, até está deitado com o ar mais bonacheirão e pacífico que se possa imaginar. Não me apetece dizer-lhe que não tarda vai ter de fazer nova viagem, daquelas que ele não gosta. Mas a próxima casa é MUITO melhor... para ambos. E quero acreditar numa coisa. Se ele é feliz até numa casa com formigas e a cair aos bocados, tanto quanto foi no "3-torto-B" e em Massamá... é poque nela encontra um único denominador comum. Eu. O companheiro inseparável para o "wrestling" diário e das noites dormidas confortavelmente debaixo do edredão, que ele "pede" para levantar todas as noites mal me vê chegar à cama. Assim será - espero - também no nosso próximo abrigo.
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