quarta-feira

A Cru

A imagem, dura, crua e seca, surgiu-me na mente durante o telefonema que chegou de casa, da outra casa, daquela que já deixei há vários anos. As pessoas envelhecem. Nem sempre nos apercebemos disso, mas isso acontece... sempre, de facto. É uma realidade que se torna de certa forma... irreal, porque tomamos as pessoas que nos são caras por certas, eternas. E ninguém é eterno. Rosa está a ficar velha. Perdão... Rosa está velha há muito. Ela nunca o quis admitir e talvez por isso eu próprio nunca tenha realmente acreditado que o tempo pudesse um dia tomar conta dela. Rosa está velha. Tem uma nova e indesejada companheira que se junta a outras, velhas e também indesejadas, companheiras - as dores. Acredito o quanto será difícil a quem passou uma vida inteira a trabalhar, com força invejável e improvável para um corpo tão franzino, sentir agora a impotência de se poder mover com autonomia. Rosa está velha. Acredito nisso agora. As pessoas não são eternas. Que pena. Rosa merecia ser. E merece. Merece, pelo menos, que as dores não a tormentem.

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