sábado

Estado de Graça


Há alguns dias disseram-me que estou demasiada e amargamente apegado a uma péssima experiência profissional que marcou a minha vida no seu todo (a nível pessoal, então, nem se fala…). Disseram-me que, ainda hoje, sou demasiado crítico e maldizente com aquela realidade, com uma data de gente que para mim significa o Inferno na Terra e até, por vezes, com quem acabou por ficar no local de trabalho onde sempre fui tratado “a pontapé” e de onde saí – com um suspiro de alívio – para outra profissão, apesar de angustiado por não saber se alguma vez voltaria a poder regressar ao meio em que queria fazer carreira. O tempo deu-me razão e, sim, voltei à minha vocação. Nesse antigo local de trabalho, deixei apenas dois amigos que continuaram na “cepa torta”. Um por opção (comodismo, diria), outro por idealismo puro (com a convicção de que o tempo lhe daria razão, não pela mesma via que a mim, mas que ainda assim sairia “vencedor” de um braço-de-ferro que se prolongaria, ao todo, por seis anos e tal). À distância dos quilómetros entre Lisboa e Coimbra, fui percebendo que as injustiças por lá não só continuavam como foram piorando mais e mais. Por um lado, voltei a suspirar de alívio (ainda mais fundo), percebendo que tomei a decisão certa na hora certa. Por outro, sempre sofri com o que ia sabendo da parte dos meus amigos e nunca pactuei com quem, estupidamente, oprimiu (e ainda oprime) sob o lema do “Venha a Nós… que mais nada interessa”. Ontem, a mais idealista das pessoas que falei há pouco sentiu, finalmente, o sabor da desejada “vitória”. Rescindiu, com direito à devida compensação financeira, com a alma tocada mas salva, com o idealismo colocado no seu devido lugar e com o orgulho de o ter feito bem, com correcção e com a Justiça a fazer-lhe… justiça. Estou, sinceramente, muito feliz por tal ter acontecido. Quem, por idealismo, defende aquilo em que acredita e sabe que é certo… merece que – demore quanto demore – o tempo lhe dê razão. E deu. Quem lá ficou por comodismo até agora… acredito que por lá se mantenha – e, quanto a isso, mais não digo. Quem saiu vitorioso disto tudo está agora desempregado mas feliz e de consciência tranquila. Está – atrevo-me a dizer – em Estado de Graça. Até saiu do País (no mesmo dia em que se “libertou”) e eu acho que fez bem. Assim, o Passado (que é ainda muitíssimo recente) vai parecer distante, em tempo e quilómetros. E acredito que mal reentre em Portugal, propostas de emprego não deverão faltar. Quem é bom no que faz tem sempre lugar – é uma máxima em que sempre acreditei (embora, por vezes, perdesse alguma fé, confesso). Talvez agora seja também hora (e a oportunidade ideal) para a minha própria “libertação”, para eu deixar de estar demasiada e amargamente apegado a essa péssima experiência profissional que marcou a minha vida. Quem comigo passou pelas mesmas coisas, felicitou-me na altura por ter saído da forma que saí e agora libertou-se também. Que venha o champanhe e o Futuro, porque o Passado foi ontem (literalmente ontem) enterrado.

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