domingo

A 1ª Vez



*(publico hoje um texto que, meramente por motivo de cansaço e falta de oportunidade, não escrevi ao final de noite de sábado/início de madrugada de domingo)


A 1ª vez é sempre um momento marcante. Aconteceu-me hoje*. Cumpri um sonho de uma vida. Algo que desde miúdo senti que gostaria de um dia vir a fazer. Mais precisamente, desde que me lembro de ouvir os relatos de futebol da Renascença, nas tardes de domingo em que me fechava no quarto, de caderneta de cromos aberta na escrivaninha para ver de quem falava o relator e de calendário da temporada da 1ª Divisão ao lado para, logo que os jogos acabassem, apontar os resultados e somar os pontos, fazendo figas para que a minha classificação batesse certo com aquela que o senhor da telefonia haveria de dizer dali a pouco. Para além do locutor que, calmamente na pacatez do estúdio, dirigia a emissão da Tarde Desportiva e do tal que, na emoção do estádio, gritava “goooooooooolos” intermináveis… havia outro que me fascinava ainda mais. Aquele a quem todos recorriam para lançar um olhar de mais perto sobre as jogadas, que “pintava” as descrições dos golos com mais cor e que, no fundo, tinha o privilégio de estar mais perto do espectáculo e de sentir o cheiro da relva. Mais discreto, menos conhecido… é certo. Mas o alvo principal da minha atenção. Mais tarde, as transmissões televisivas. E a “prova provada” de que a TV não passa de rádio com imagem. Um senhor a narrar os lances e outro lá em baixo no relvado a “colorir” a emissão com pormenores que escapam às cameras. Sempre achei que me daria gozo fazê-lo, pelo menos uma vez na vida. Sempre achei que seria capaz. Mas, tal como voar (avião, helicóptero, saltar de pára-quedas – tudo coisas que já por várias vezes estive prestes a fazer mas que, à última hora, não se proporcionaram), as chances foram “fugindo” à medida que o tempo passava. Essa chance chegou hoje*. Foi-me dada, pois foi. Mas também muito fiz para que ela chegasse. E quando chegou, agarrei-a. Sem unhas (roídas), sem dentes (a ranger ou a tiritar), mas agarrei-a. E o que fiz? Tentei ser profissionalmente competente mas, acima de tudo, tentei divertir-me o mais possível durante aquelas duas horas. Penso ter atingido o primeiro objectivo e tenho a certeza de ter alcançado em pleno o segundo. Foi muito bom. Não foi perfeito por que “depressa e bem não há quem”; gaguejei, perdi “aquela” palavra na altura em que era precisa e falei ao mesmo tempo que o meu colega… Mas depois a coisa encarrilou e até arrisquei fazer mais do que o simplesmente básico (que é o aconselhado a todo e qualquer “caloiro” que faz uma transmissão televisiva para grandes audiências). Correu bem… e agora quero mais! Já há muito não oiço os relatos com caderneta de cromos aberta e muito menos a minha maior preocupação é fazer na hora as contas do campeonato (há muitos sites e jornais que fazem isso “por mim”). Mas uma coisa é certa. Mesmo não sabendo quando será a minha 2ª vez e até se ela virá – mas acredito que sim – gosto de pensar que, a partir de agora, algum miúdo me oiça e pense: «Que giro seria se eu um dia pudesse fazer aquilo que aquele senhor faz, ali à beira do relvado…!».

sábado

Só se houver gajas…!



Hoje coube-me a tarefa de pegar o jantar para todos. Enquanto os meus sobrinhos faziam das deles, os papás confiavam em mim para garantir que alguma coisa que não polpa de fruta, sopra ralada ou leite surgisse para a refeição da noite. Foi nesses curtos 500 metros entre casa e restaurante que ouvi essa frase mítica em conversa de gajos que é «Só se houver gajas…!». A conversa era, de facto, de gajos. Ou melhor, de rapazes armados em gajos, entenda-se. Falava-se – ao que percebi – de uma saída à noite para a discoteca e então essa frase veio “ao barulho”, sendo condição sine qua non para que a saída se efectuasse ou então para que a mesma corresse como deve ser. Curioso… lembrei-me que eu próprio proferi essa “bela” máxima dezenas (talvez centenas…) de vezes, entre os últimos anos da secundária e o final da faculdade. Sim… porque prioridade é prioridade. E gajas, nesses anos… eram a prioridade! Saía-se muito e tudo corria bem… se houvesse gajas, claro! Hoje – sinais dos tempos… ou então só da idade – prefiro um bom jantar com a família, ver um bom filme ou uma boa série de televisão, beber um café com amigos e até já pouco saio à noite. Ah!… e o haver gajas não é, de certeza, condição sine qua non para que uma saída corra bem.

sexta-feira

A cidade




Percorro, de carro, uma última vez, as ruas da cidade. Os mil e um afazeres burocráticos a isso obrigam, mas, neste caso, ainda bem. Sou como que forçado a “visitar” a urbe que raramente vejo com “olhos de ver”. A normalidade do quotidiano parece “tapá-la” com um manto cinzento que a torna desinteressante. Hoje não. Nem é um dia normal nem sequer há “ponta” de cinzento à vista. O sol brilhante e o céu azul realçam todas as outras (belas) cores que poucas vezes admiro devidamente. Há alguns meses atrás – no verão passado – fotografei a cidade mas só hoje me lembrei que o fiz, do calor que passei a caminhar (da “Alta” à “Baixa” e da “Baixa” de volta à “Alta”, por ruelas estreitas e calçadas antigas); isto sem esquecer, claro, o prazer que me deu captar imagens dos pormenores em que pouca gente rapara. Desço a Couraça. Cruzo-me com caras que eu (re)conheço (mesmo não conseguindo atribuir-lhes um nome), com que já me cruzei dezenas de vezes no passado, que já vi subir a Couraça, certamente. É o condão das cidades pequenas. Conhece-se toda a gente e toda a gente nos conhece, nem que seja só de vista. Chego ao jardim, junto ao rio. Que bonito que é num dia de sol como hoje… ou em noites de concertos e shot’s de Moranguito, como há uns anos atrás…! Consigo “isolar” o cheiro do Mondego por entre os fumos dos carros que passam na avenida. Portagem… cheia de miúdos em cortejo, mascarados, festejando o Carnaval mas a fazer lembrar outros corsos (de gente mais graúda), no mesmo local, em Novembro e em Maio. O trânsito, o frenesi. O fervilhar calmo e descontraído de uma cidade sem a responsabilidade de ser mais do que simplesmente simpática. Aqui há pouca coisa. E vou-me embora por causa disso. Sei (espero) que tudo vai ficar (praticamente) igual e sei (espero) que, quando cá voltar, tudo estará (sensivelmente) na mesma. Tenho o secreto receio de sair como Toto saiu de Giancaldo [“Cinema Paraíso”] e do regresso poder ser um choque imenso… mas não creio que assim seja; seria um desgosto se tudo mudasse. Vou embora. Vou sair. A cidade fica. Não mudará, de certeza. As mesmas pessoas subirão a Couraça. Os mesmos cortejos acontecerão em Novembro e em Maio. O rio correrá, impávido e sereno, como sempre. O frenesi continuará a ser calmo e descontraído e a urbe simplesmente simpática. Não sentirá a minha falta mas eu sentirei a dela. Por isso, levo comigo as fotos do verão passado, para não me esquecer do quão bela ela é num dia de sol como hoje.


segunda-feira

A k@sa

Caro “Diário” (leia-se “blog”):


Escrevo-te este post no comboio, de regresso a casa, ao fim de um dia absolutamente cheio e desgastante. Andei à procura de nova casa na “cidade grande” para onde eu (e tu, já que o K@tatil vai comigo e em ti conto manter a escrita em dia) me vou mudar. Na verdade, já não me lembrava do que significava esta busca pavorosa. Que o é… pavorosa, não tenhas dúvidas!... Tudo começou, naturalmente, com a notícia de que ia mudar de cidade. Primeiro houve a excitação do “salto” mas, não tardou, a “queda de pés juntos na terra” obrigou-me a pensar que há um sem número de coisas a tratar… qual delas a mais complicada…! Retirando todas as outras questões deste quadro dantesco de burocracias e afazeres (talvez também venha a escrever sobre elas, mas espero que não), a questão da casa “nova” é aquilo a que chamo de “verdadeiro pincel”. Sim… isso está resolvido. Mas não deixou de ser um “parto” complicadíssimo de acontecer. Há dias que amigos de lá me sugeriam classificados da net e até foram ver casas que tinham aqueles cartazes de “Aluga-se” nas janelas; ao mesmo tempo que eu comprava o Correio da Manhã (passe a publicidade… acredito que eles não se importem da referência) e via os classificados em papel, anotando números de telefone num papel dobrado e rasgado que tinha por ali na mesa da sala e ia ligando a seguir. Assinalei com um “visto” os que me interessaram e risquei os outros, que eram caros ou sem as condições mínimas para a minha súbita mudança. O papel, dobrado e rasgado, curiosamente, sobreviveu a isto tudo e vai ali no bolso do casaco. Acho que vou guardá-lo… só para não voltar a dizer «já não me lembrava do que significava esta busca pavorosa». Chegado à “cidade grande”, foi hora de começar o périplo pelas casas “apalavradas” e por outras, cujo contacto foi conseguido durante o dia. 3… 4… já não sei bem. Pelo meio, telefonemas sem fim… A conversa… sempre a mesma… «E por quanto está a arrendar…? Tem equipamentos…? Os contratos da água, gás e luz… terei de os fazer…? É que se não tiver de os fazer… tanto melhor! E esse preço não é negociável…?». As respostas… quase sempre as mesmas também… «São “x”€… não negociáveis… Isso das contas tem de se ver… Depois de dizer se quer ou não quer… Quer lá ir ver… mesmo que não tenha equipamentos nenhuns..?». Cansa! Tanto! Ao início da tarde, uma hora depois de chegar, vi a primeira casa. Não era perfeita, mas tinha tudo o que precisava para esta fase. E ficou “referenciada”. Eu disse que ligava ao fim da tarde. O proprietário concordou. As seguintes também eram jeitosas, mas – apesar dos sorrisos fáceis dos agentes imobiliários – faltava sempre qualquer coisa. Liguei ao fim da tarde, como prometido. O proprietário já tinha decidido alugar a outra pessoa. Entrei em “pânico controlado” (do tipo… «Quêêê?!? Não pode ser… Vou ter de convencer este gajo!») e meia dúzia de minutos depois, já havia um princípio de acordo. O proprietário não deu garantias de mudar de ideias mas prometeu ligar dali a 10 minutos. Demorou 23 minutos, se não me engano (23 minutos de “agonia” – também ela “controlada” – por não querer voltar à estaca zero),… mas ligou. «A minha mulher e eu achamos que é mais de confiança do que o vendedor. Afinal, a carreira de jornalista tem uma certa credibilidade, pensei. E pelos vistos… tem mesmo. Ainda assim, pediu-me fotocópias de BI, Contribuinte, morada actual e a do emprego… mais um mês de renda de avanço. Que faria se eu não fosse um gajo “mais de confiança do que o vendedor”…!? Está feito. Foi batalhado… mas está feito. A casa é pequena, simples, mas mudo-me no fim-de-semana. Preciso do meu canto. Para fazer tudo o que… quero.


PS: Obrigado…

Quero (II)



quero escrever coisas bonitas e coisas engraçadas mas acima de tudo coisas bem escritas que me dêem “aquele” prazer de escrever quero dizer coisas acertadas quando tiver de ser objectivo e outras coisas parvas quando simplesmente me apetecer quero ser um bom profissional quero encarar cada desafio como uma nova aventura quero estar de bem com o meu dia-a-dia quero batalhar quero continuar a olhar para textos sem pontuação e ver que eles me dizem muito mais do que todos os outros textos ditos convencionais quero ter saudades quero estar presente onde é importante quero saber estar onde é importante saber estar quero ser melhor quero descobrir novos caminhos no labirinto da cidade quero descobrir se a minha voz é mesmo boa como dizem quero perceber se valho o que penso que valho quero deixar de ver a carreira como um bicho de sete cabeças quero emagrecer cinco quilos quero ver finalmente ver os meus dvd’s em que tenho torrado dinheiro nos últimos meses quero conseguir dominar-me quando vou à fnac quero divertir-me com os meus pechincha-time’s nas imensas lojas chinesas que ainda não conheço mas vou conhecer quero ir à feira da ladra quero voltar aos sítios que me povoam a memória quero estar e sentir-me feliz para poder ficar sem receio do que o amanhã traz com ele quero ser advertido pelo que fizer mal mas também ser reconhecido pelo que fizer bem feito quero ser eu

sexta-feira

Parabéns!...





... a este senhor... que tem este blog... e que eu admiro muito!

quinta-feira

Sinais dos Tempos?



Apanho o comboio, apressado e aborrecido por ter apanhado uma molha do carro até à plataforma junto aos carris. Entro, sinto (algo confortado) o calor da climatização automática da carruagem, sento-me e não perco tempo a abrir a mala do computador para começar a preparar o trabalho que me espera no final da viagem de uma hora. Coloco a placa de acesso 3G e navego na net em busca de notícias, como faço todos os dias, de resto. Com este ritual matinalmente turbulento mas já mecanizado nem reparo que à minha frente se sentou uma senhora de idade, com roupas negras que contrastam com o azul das minhas calças de ganga e o vermelho que surge amiúde no meu casaco cinza. Quando, finalmente, vejo o que faz, está a tirar de uma saca branca um novelo e as agulhas do tricot. Abro mais um site, escolho uma música no meu discman e copio um texto; passo-o para o Word para poder fazer a triagem do que é importante e do que não é para a emissão. Ela, alheada da conversa que se passa no banco atrás e de tudo o resto que a rodeia, agita as agulhas (uma contra a outra, e depois numa espécie de pequeno circulo e ainda depois de novo uma contra a outra…) e a linha branca vai saindo da saca a bom ritmo. Não consigo deixar de pensar que entre mim e esta senhora vai um mundo de diferenças e que o tempo se encarregou de nos afastar, mesmo sem nunca nos termos visto na vida. Aquilo que eu hoje não dispenso no comboio é, para ela, certamente, uma carrada de “modernices” e, para mim, aquele tricot é “do tempo da outra senhora”. Abro o site do Blogger para começar a escrever estas linhas. Ela remata cuidadosamente um dos cantos da peça que está a fazer. Entretanto, a viagem aproxima-se do fim. Desligo computador. Ela pára a dança das agulhas. Abro a mala e acondiciono o portátil. Ela enrola a linha que sobra de volta ao novelo. Para o fim, ficam o discman e a placa 3G que coloco com cuidado na caixa e esta na mala. Para o fim, ficam as agulhas e o papel fotocopiado (uma espécie de cábula com um modelo de napron) que coloca de volta na saca branca. Só quando nos levantamos para sair se cruzam os olhares destas duas (distantes) gerações. Esboçamos um sorriso mútuo e seguimos cada um o caminho que tem a seguir.

quarta-feira

Please RESET Your Machine




E pronto. Vou ter de fazer RESET!Se a frase imediatamente anterior não é perceptível logo à primeira, eu explico. Ontem dei-me conta de que vou mesmo mudar de vida e de que já não há qualquer dúvida disso. Com a mudança de vida a nível profissional, no entanto, vem uma data de outras coisas que mudam também. Hábitos pessoais, horários, os sítios... o dia-a-dia, no fundo, todo ele se altera.Não que me assuste esse "abalo" no meu quotidiano, mas não passa por mim sem me dar um pequeno arrepio na barriga, o raio da mudança. Actualmente, até que levo uma vida extremamente agitada a nível de horários e de viagens de trabalho, diárias e semanais; mas os caminhos que faço são-me banais, com muitas passagens por estradas secundárias ou outros percursos em que "muito trânsito" significa 10 carros no semáforo a caminho do centro da cidade ou então aquele "comboiínho" de carros atrás do Micra cinzento metalizado da senhora que não passa dos 40km/h. Além disso, no meu trajecto matinal, 75% do caminho vejo campos verdes e os restantes 25% são casebres, vivendas ou casas de 1º ou 2º andar... no máximo. A partir de agora... não. Prédios, carros, cimento, um jardinzito aqui e ali (muitas vezes maltratado), filas com 100 automóveis à minha frente e mais 200 atrás do meu pobre Punto... num dia bom. Quando se vai à "cidade grande" de visita, já vamos preparados para ver tudo isto como um "actrativo turístico" da zona ou até fazemos os planos para ir fora das "horas de ponta", escapando à confusão. Mas quando se percebe que o dia-a-dia vai ser mesmo aquilo, sem escape possível e sem flexibilidade de horários... Xiiiizzzzz! Vou ter de me (re)habituar. Vou ter de fazer RESET!

segunda-feira

Noite Estranha…




Não me recordo de tal coisa (ou semelhante) senão num daqueles episódios mais alucinados do “Twin Peaks”, no seu “melhor”… Se bem me lembro, esta noite sonhei com a chegada de centenas de golfinhos ao rio da minha terra (que, estranhamente, estava a mais de 30km do seu local habitual, ou seja, na cidade onde vivo actualmente) e, ainda para mais,… vindos do interior para o litoral… Mas há mais… Sonhei que filmava um jogo de futebol infantil com árbitro mas sem regras e em que os pais apoiavam os filhos que mais caneladas davam aos adversários… De repente, vi-me a passar uma ponte suspensa de madeira e a olhar surpreso para baixo porque reparei que o pequeno riacho que atravessava se tinha tornado num enorme penhasco… E depois tocou o despertador…

domingo

S.E.F.




Na ânsia de tratar rapidamente de tudo antes de mudar de vida, mesmo em fim-de-semana, fui à Loja do Cidadão (LC) tratar da renovação/substituição do meu pobre Cartão de Contribuinte, cujo número está perfeitamente ilegível... desde sempre. Mais 8,90€ "dados" ao Estado e daqui a três semanas receberei em casa um novo cartão, esperando que não se torne ilegível ao fim de uma semana, como o actual. Não vindo isso ao caso, refiro a minha ida à LC porque, havendo vários guichets lado-a-lado, diferentes tipos de pessoas aguardavam para resolver diferentes tipos de problemas. Isto, enquanto aguadava eu também para, finalmente, pagar a minha "dívida" ao Estado (por pedir novo cartão - e em que reparei noutro "pequeno nada" que aqui trarei em breve). Nesse momento, soou-me estranhamene familiar um «Até mais logo, se Deus quiser!» que ouvi dito uns 3 mestros ao meu lado. "Familiar" porque é uma das expressões mais lusitanas que se pode usar e "estranhamente" por ter sido dita com um ligeiro sotaque... de Leste. Olhei para o lado e um senhor ucraniano acabava de tratar das papeladas no balcão do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras... mas tudo feito com uma expressão corporal e várias expressões orais bem portuguesas. Na cadeira ao lado da dele, um brasileiro estava "igual a si próprio", de palito no canto da boca, recostado e com o traseiro ao fundo do assento, olhando com desdém para o funcionário que ia tentando (em vão) que o imigante entendesse a mesma língua que ele fala e preenchesse um formulário com simples dados pessoais. Por evidente preguiça, não só não o fazia como, recostado, ia dizendo «Óxe!... Botá o quê? Bota vócê o que é preciso aí, vai! Homem deste boteco é tu, ora!...». A insolência e preguiça brasileira (que, Graças a Deus, não é comum a todos os brasileiros) contrastava com a organização e simpatia dos vários europeus de Leste que tratavam os funcionários do S.E.F. com cordialidade e respeito, perguntando sempre qual a linha certa onde assinar e se era necessário mais alguma coisa... mais uma vez, com um Português praticamente impecável e ainda com expressões usadas no momento certo, como "se Deus quiser", "há oito dias" e "dedo mindinho". Deliciei-me ao ver e ouvir isto e agora sei que respeito mais os imigantes que vêm para melhorar a sua vida e se dão ao trabalho de tudo fazer para tornar Portugal a sua verdadeira segunda casa.

sexta-feira

«’tí, K@! ‘TÍÍÍ!»



«K@... Un ‘tá!!!» foram as últimas “palavras” que ouvi, mal a porta do elevador se fechou. Pequenos vocábulos que a minha sobrinha exclama quando se despede de mim, acena e fecha a porta (de casa ou do elevador), como tanto gosta de fazer. Curiosamente, ela dá-me um beijo e um abraço, leva-me à porta, acena-me e fecha a porta e depois diz «K@... Un ‘tá!!!» («O K@ não está!!!»), como se já sentisse a minha falta, segundos depois de se ter despedido de mim. Foi, sem qualquer dúvida, o dia mais estranho dos meus últimos anos. Por uma coisa boa que teve, teve também imensas coisas que simplesmente não pensei que pudessem suceder num dia tão especial. Mas aconteceram. «’tí, K@! ‘TÍÍÍ!» («Aqui, K@! AQUIII!»), dito apontando para a cadeirinha verde do quarto dela, fez-me pensar que me vai ser imensamente duro não a ver e ouvir durante os próximos seis meses. Mas tem de ser. Tenho de ir. Tenho de lutar e cumprir o sonho que há anos desejo ver concretizado. Ela não sabe que o tio vai para longe. Sorri como se o mundo lhe sorrisse com os mesmos 10 dentes (lindamente afastados) que ela já tem. A gargalhada dela é genuína e contagiante. Não há maneira de não ficar arrebatado ao vê-la assim. A mãe diz-me que ela chama por mim muitas vezes quando não estou, que o meu nome é o mais dito lá em casa e que, sempre que a campainha toca, a corrida para a porta com o respectivo «K@! K@! K@!» é inevitável, seja quem for que esteja para entrar. Este fim de dia fez-me esquecer as horas que passei ao telemóvel, em conversações e a comunicar a minha mudança de vida, as conversas online, as boas e as más, tal como as surpresas (as boas e as más), os sorrisos, os nervos, as peripécias e as desilusões que vivi em pouco menos de doze horas. Hoje, vê-la brincar comigo, com as bonecas e com os pratos e canecas de fantasia custou-me como nunca tinha custado. Vou deixar de ter este privilégio de a ver crescer, de a ver sorrir, de a ver brincar. Ela “obriga-me” a ser melhor. Porque sou hoje um melhor tio do que há um ano e meio atrás. Porque hoje sou uma melhor pessoa que há um ano e meio atrás. Porque hoje, por causa dela e desde há um ano e meio atrás, sou alguém que vê a vida com outros olhos. Mas quero ser melhor ainda. E por isso tenho de ir. Custe o que custar. Mesmo que ao escrever estas linhas não consiga evitar que as lágrimas me corram rosto abaixo. Mesmo que aquele sorriso passe a ser só um prazer fortuito, visto num (raro) dia de folga, numa foto chegada por e-mail ou num MMS que irrompa pelo ecrã do meu telefone. Vou porque tenho de ir. Porque o sonho está ali tão perto e porque não quero que o K@ que ela veja seja um K@ temeroso, fraco e acomodado ao que é mais seguro. Sim, ela “obriga-me” a ser melhor. E é por ela que quero ser melhor. É por ela que farei tudo para o ser. E espero que ela não sinta tanto a minha falta como a que eu sentirei dela. O meu maior desejo neste momento? Só que, mesmo estando eu a duzentos quilómetros (ou mais) ela me veja, aponte para o ecrã e diga «’tí, K@! ‘TÍÍÍ!»… Será sinal de que continuarei a estar com ela e de que ela estará comigo.

quinta-feira

BLOG REABERTO

Porque tudo mudou...
Porque tudo melhorou...
Porque vou "voltar a casa"...
Porque... estou feliz!...