sexta-feira

«’tí, K@! ‘TÍÍÍ!»



«K@... Un ‘tá!!!» foram as últimas “palavras” que ouvi, mal a porta do elevador se fechou. Pequenos vocábulos que a minha sobrinha exclama quando se despede de mim, acena e fecha a porta (de casa ou do elevador), como tanto gosta de fazer. Curiosamente, ela dá-me um beijo e um abraço, leva-me à porta, acena-me e fecha a porta e depois diz «K@... Un ‘tá!!!» («O K@ não está!!!»), como se já sentisse a minha falta, segundos depois de se ter despedido de mim. Foi, sem qualquer dúvida, o dia mais estranho dos meus últimos anos. Por uma coisa boa que teve, teve também imensas coisas que simplesmente não pensei que pudessem suceder num dia tão especial. Mas aconteceram. «’tí, K@! ‘TÍÍÍ!» («Aqui, K@! AQUIII!»), dito apontando para a cadeirinha verde do quarto dela, fez-me pensar que me vai ser imensamente duro não a ver e ouvir durante os próximos seis meses. Mas tem de ser. Tenho de ir. Tenho de lutar e cumprir o sonho que há anos desejo ver concretizado. Ela não sabe que o tio vai para longe. Sorri como se o mundo lhe sorrisse com os mesmos 10 dentes (lindamente afastados) que ela já tem. A gargalhada dela é genuína e contagiante. Não há maneira de não ficar arrebatado ao vê-la assim. A mãe diz-me que ela chama por mim muitas vezes quando não estou, que o meu nome é o mais dito lá em casa e que, sempre que a campainha toca, a corrida para a porta com o respectivo «K@! K@! K@!» é inevitável, seja quem for que esteja para entrar. Este fim de dia fez-me esquecer as horas que passei ao telemóvel, em conversações e a comunicar a minha mudança de vida, as conversas online, as boas e as más, tal como as surpresas (as boas e as más), os sorrisos, os nervos, as peripécias e as desilusões que vivi em pouco menos de doze horas. Hoje, vê-la brincar comigo, com as bonecas e com os pratos e canecas de fantasia custou-me como nunca tinha custado. Vou deixar de ter este privilégio de a ver crescer, de a ver sorrir, de a ver brincar. Ela “obriga-me” a ser melhor. Porque sou hoje um melhor tio do que há um ano e meio atrás. Porque hoje sou uma melhor pessoa que há um ano e meio atrás. Porque hoje, por causa dela e desde há um ano e meio atrás, sou alguém que vê a vida com outros olhos. Mas quero ser melhor ainda. E por isso tenho de ir. Custe o que custar. Mesmo que ao escrever estas linhas não consiga evitar que as lágrimas me corram rosto abaixo. Mesmo que aquele sorriso passe a ser só um prazer fortuito, visto num (raro) dia de folga, numa foto chegada por e-mail ou num MMS que irrompa pelo ecrã do meu telefone. Vou porque tenho de ir. Porque o sonho está ali tão perto e porque não quero que o K@ que ela veja seja um K@ temeroso, fraco e acomodado ao que é mais seguro. Sim, ela “obriga-me” a ser melhor. E é por ela que quero ser melhor. É por ela que farei tudo para o ser. E espero que ela não sinta tanto a minha falta como a que eu sentirei dela. O meu maior desejo neste momento? Só que, mesmo estando eu a duzentos quilómetros (ou mais) ela me veja, aponte para o ecrã e diga «’tí, K@! ‘TÍÍÍ!»… Será sinal de que continuarei a estar com ela e de que ela estará comigo.

2 comentários:

covinhas disse...

este é o K@ que eu conheço :)
e claro que deves ir, porque a sorbinha linda vai estar sempre, sempre ai. e não são seis meses...aposto que o pequeno punto demora apenas um belo par de horas a chegar de um lado ao outro :)
vai em frente gajo, há coisas que temos de fazer na vida e essa é uma delas. Há sete ??? anos que te nconheço e nunca te vi cruzar os braços. se eu te digo que és um chato é por alguma razão...nem que seja por te chateares a ti mesmo para correres atrás dos teus sonhos. e agora sim vais poder sentir que coimbra tem mesmo mais encanto na hora da despedida. senti isso quando me vim embora, quando tive de dar um rumo à minha vida. custou. chorei baba e ranho (não esse que tu aturaste), pensei que uma semana longe desse mundo fantástico que eu descobri, me ia fazer querer voltar. e fez. voltei para rever os amigos, para passar bons momentos, para me rir (quantas vezes graças a esse teu lado cómico...e chato, claro..em que nao deixas ninguem recuperar da gargalhada anterioro, que nao nos deixas ver o DVD do casório dos nossos queridos amigos...de tantas coisas).
sei que tou um cadito lamechas, mas deixa lá. sair de coimbra faz pensar e dar valor à recordações que levamos dai. e eu sei que também levas boas. nem que sejam as do tempo em que te armavas em "doutor" e fazias perguntas indiscretas às caloiras; do tempo em que me chamavas de preta e me fazias passar grandes vergonhas na aula de Rádio; daquela noite a beber vinho do porto e a comer amendoins. lembras-te?o que nós nos rimos, e o quanto nos rimos depois com os comentários de quem gosta de fazer filmes...
a vida é mesmo assim, sempre a mudar. a tua vai mudar e eu tenho certeza que vai ser para melhor. certamente que vou passar a ouvir-te mais vezes ;)
fui muito chata???????????mas também se não fosse...não seria eu, a "preta" mais chata que conheces!!!

covinhas disse...

só mais uma coisita: não esquecer dia 18. vá lá...´´e a oportunidade de comemorar e de te poder dar um abraço daqueles. vá lá...vem,please.