domingo

S.E.F.




Na ânsia de tratar rapidamente de tudo antes de mudar de vida, mesmo em fim-de-semana, fui à Loja do Cidadão (LC) tratar da renovação/substituição do meu pobre Cartão de Contribuinte, cujo número está perfeitamente ilegível... desde sempre. Mais 8,90€ "dados" ao Estado e daqui a três semanas receberei em casa um novo cartão, esperando que não se torne ilegível ao fim de uma semana, como o actual. Não vindo isso ao caso, refiro a minha ida à LC porque, havendo vários guichets lado-a-lado, diferentes tipos de pessoas aguardavam para resolver diferentes tipos de problemas. Isto, enquanto aguadava eu também para, finalmente, pagar a minha "dívida" ao Estado (por pedir novo cartão - e em que reparei noutro "pequeno nada" que aqui trarei em breve). Nesse momento, soou-me estranhamene familiar um «Até mais logo, se Deus quiser!» que ouvi dito uns 3 mestros ao meu lado. "Familiar" porque é uma das expressões mais lusitanas que se pode usar e "estranhamente" por ter sido dita com um ligeiro sotaque... de Leste. Olhei para o lado e um senhor ucraniano acabava de tratar das papeladas no balcão do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras... mas tudo feito com uma expressão corporal e várias expressões orais bem portuguesas. Na cadeira ao lado da dele, um brasileiro estava "igual a si próprio", de palito no canto da boca, recostado e com o traseiro ao fundo do assento, olhando com desdém para o funcionário que ia tentando (em vão) que o imigante entendesse a mesma língua que ele fala e preenchesse um formulário com simples dados pessoais. Por evidente preguiça, não só não o fazia como, recostado, ia dizendo «Óxe!... Botá o quê? Bota vócê o que é preciso aí, vai! Homem deste boteco é tu, ora!...». A insolência e preguiça brasileira (que, Graças a Deus, não é comum a todos os brasileiros) contrastava com a organização e simpatia dos vários europeus de Leste que tratavam os funcionários do S.E.F. com cordialidade e respeito, perguntando sempre qual a linha certa onde assinar e se era necessário mais alguma coisa... mais uma vez, com um Português praticamente impecável e ainda com expressões usadas no momento certo, como "se Deus quiser", "há oito dias" e "dedo mindinho". Deliciei-me ao ver e ouvir isto e agora sei que respeito mais os imigantes que vêm para melhorar a sua vida e se dão ao trabalho de tudo fazer para tornar Portugal a sua verdadeira segunda casa.

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