Percorro, de carro, uma última vez, as ruas da cidade. Os mil e um afazeres burocráticos a isso obrigam, mas, neste caso, ainda bem. Sou como que forçado a “visitar” a urbe que raramente vejo com “olhos de ver”. A normalidade do quotidiano parece “tapá-la” com um manto cinzento que a torna desinteressante. Hoje não. Nem é um dia normal nem sequer há “ponta” de cinzento à vista. O sol brilhante e o céu azul realçam todas as outras (belas) cores que poucas vezes admiro devidamente. Há alguns meses atrás – no verão passado – fotografei a cidade mas só hoje me lembrei que o fiz, do calor que passei a caminhar (da “Alta” à “Baixa” e da “Baixa” de volta à “Alta”, por ruelas estreitas e calçadas antigas); isto sem esquecer, claro, o prazer que me deu captar imagens dos pormenores em que pouca gente rapara. Desço a Couraça. Cruzo-me com caras que eu (re)conheço (mesmo não conseguindo atribuir-lhes um nome), com que já me cruzei dezenas de vezes no passado, que já vi subir a Couraça, certamente. É o condão das cidades pequenas. Conhece-se toda a gente e toda a gente nos conhece, nem que seja só de vista. Chego ao jardim, junto ao rio. Que bonito que é num dia de sol como hoje… ou em noites de concertos e shot’s de Moranguito, como há uns anos atrás…! Consigo “isolar” o cheiro do Mondego por entre os fumos dos carros que passam na avenida. Portagem… cheia de miúdos em cortejo, mascarados, festejando o Carnaval mas a fazer lembrar outros corsos (de gente mais graúda), no mesmo local, em Novembro e em Maio. O trânsito, o frenesi. O fervilhar calmo e descontraído de uma cidade sem a responsabilidade de ser mais do que simplesmente simpática. Aqui há pouca coisa. E vou-me embora por causa disso. Sei (espero) que tudo vai ficar (praticamente) igual e sei (espero) que, quando cá voltar, tudo estará (sensivelmente) na mesma. Tenho o secreto receio de sair como Toto saiu de Giancaldo [“Cinema Paraíso”] e do regresso poder ser um choque imenso… mas não creio que assim seja; seria um desgosto se tudo mudasse. Vou embora. Vou sair. A cidade fica. Não mudará, de certeza. As mesmas pessoas subirão a Couraça. Os mesmos cortejos acontecerão em Novembro e em Maio. O rio correrá, impávido e sereno, como sempre. O frenesi continuará a ser calmo e descontraído e a urbe simplesmente simpática. Não sentirá a minha falta mas eu sentirei a dela. Por isso, levo comigo as fotos do verão passado, para não me esquecer do quão bela ela é num dia de sol como hoje.
sexta-feira
A cidade
Percorro, de carro, uma última vez, as ruas da cidade. Os mil e um afazeres burocráticos a isso obrigam, mas, neste caso, ainda bem. Sou como que forçado a “visitar” a urbe que raramente vejo com “olhos de ver”. A normalidade do quotidiano parece “tapá-la” com um manto cinzento que a torna desinteressante. Hoje não. Nem é um dia normal nem sequer há “ponta” de cinzento à vista. O sol brilhante e o céu azul realçam todas as outras (belas) cores que poucas vezes admiro devidamente. Há alguns meses atrás – no verão passado – fotografei a cidade mas só hoje me lembrei que o fiz, do calor que passei a caminhar (da “Alta” à “Baixa” e da “Baixa” de volta à “Alta”, por ruelas estreitas e calçadas antigas); isto sem esquecer, claro, o prazer que me deu captar imagens dos pormenores em que pouca gente rapara. Desço a Couraça. Cruzo-me com caras que eu (re)conheço (mesmo não conseguindo atribuir-lhes um nome), com que já me cruzei dezenas de vezes no passado, que já vi subir a Couraça, certamente. É o condão das cidades pequenas. Conhece-se toda a gente e toda a gente nos conhece, nem que seja só de vista. Chego ao jardim, junto ao rio. Que bonito que é num dia de sol como hoje… ou em noites de concertos e shot’s de Moranguito, como há uns anos atrás…! Consigo “isolar” o cheiro do Mondego por entre os fumos dos carros que passam na avenida. Portagem… cheia de miúdos em cortejo, mascarados, festejando o Carnaval mas a fazer lembrar outros corsos (de gente mais graúda), no mesmo local, em Novembro e em Maio. O trânsito, o frenesi. O fervilhar calmo e descontraído de uma cidade sem a responsabilidade de ser mais do que simplesmente simpática. Aqui há pouca coisa. E vou-me embora por causa disso. Sei (espero) que tudo vai ficar (praticamente) igual e sei (espero) que, quando cá voltar, tudo estará (sensivelmente) na mesma. Tenho o secreto receio de sair como Toto saiu de Giancaldo [“Cinema Paraíso”] e do regresso poder ser um choque imenso… mas não creio que assim seja; seria um desgosto se tudo mudasse. Vou embora. Vou sair. A cidade fica. Não mudará, de certeza. As mesmas pessoas subirão a Couraça. Os mesmos cortejos acontecerão em Novembro e em Maio. O rio correrá, impávido e sereno, como sempre. O frenesi continuará a ser calmo e descontraído e a urbe simplesmente simpática. Não sentirá a minha falta mas eu sentirei a dela. Por isso, levo comigo as fotos do verão passado, para não me esquecer do quão bela ela é num dia de sol como hoje.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
Coimbra tem mais encanto na hora da despedida...
tem muito mais encanto na hora da despedida!!
Como eu sei isso!!
Enviar um comentário