Apanho o comboio, apressado e aborrecido por ter apanhado uma molha do carro até à plataforma junto aos carris. Entro, sinto (algo confortado) o calor da climatização automática da carruagem, sento-me e não perco tempo a abrir a mala do computador para começar a preparar o trabalho que me espera no final da viagem de uma hora. Coloco a placa de acesso 3G e navego na net em busca de notícias, como faço todos os dias, de resto. Com este ritual matinalmente turbulento mas já mecanizado nem reparo que à minha frente se sentou uma senhora de idade, com roupas negras que contrastam com o azul das minhas calças de ganga e o vermelho que surge amiúde no meu casaco cinza. Quando, finalmente, vejo o que faz, está a tirar de uma saca branca um novelo e as agulhas do tricot. Abro mais um site, escolho uma música no meu discman e copio um texto; passo-o para o Word para poder fazer a triagem do que é importante e do que não é para a emissão. Ela, alheada da conversa que se passa no banco atrás e de tudo o resto que a rodeia, agita as agulhas (uma contra a outra, e depois numa espécie de pequeno circulo e ainda depois de novo uma contra a outra…) e a linha branca vai saindo da saca a bom ritmo. Não consigo deixar de pensar que entre mim e esta senhora vai um mundo de diferenças e que o tempo se encarregou de nos afastar, mesmo sem nunca nos termos visto na vida. Aquilo que eu hoje não dispenso no comboio é, para ela, certamente, uma carrada de “modernices” e, para mim, aquele tricot é “do tempo da outra senhora”. Abro o site do Blogger para começar a escrever estas linhas. Ela remata cuidadosamente um dos cantos da peça que está a fazer. Entretanto, a viagem aproxima-se do fim. Desligo computador. Ela pára a dança das agulhas. Abro a mala e acondiciono o portátil. Ela enrola a linha que sobra de volta ao novelo. Para o fim, ficam o discman e a placa 3G que coloco com cuidado na caixa e esta na mala. Para o fim, ficam as agulhas e o papel fotocopiado (uma espécie de cábula com um modelo de napron) que coloca de volta na saca branca. Só quando nos levantamos para sair se cruzam os olhares destas duas (distantes) gerações. Esboçamos um sorriso mútuo e seguimos cada um o caminho que tem a seguir.
quinta-feira
Sinais dos Tempos?
Apanho o comboio, apressado e aborrecido por ter apanhado uma molha do carro até à plataforma junto aos carris. Entro, sinto (algo confortado) o calor da climatização automática da carruagem, sento-me e não perco tempo a abrir a mala do computador para começar a preparar o trabalho que me espera no final da viagem de uma hora. Coloco a placa de acesso 3G e navego na net em busca de notícias, como faço todos os dias, de resto. Com este ritual matinalmente turbulento mas já mecanizado nem reparo que à minha frente se sentou uma senhora de idade, com roupas negras que contrastam com o azul das minhas calças de ganga e o vermelho que surge amiúde no meu casaco cinza. Quando, finalmente, vejo o que faz, está a tirar de uma saca branca um novelo e as agulhas do tricot. Abro mais um site, escolho uma música no meu discman e copio um texto; passo-o para o Word para poder fazer a triagem do que é importante e do que não é para a emissão. Ela, alheada da conversa que se passa no banco atrás e de tudo o resto que a rodeia, agita as agulhas (uma contra a outra, e depois numa espécie de pequeno circulo e ainda depois de novo uma contra a outra…) e a linha branca vai saindo da saca a bom ritmo. Não consigo deixar de pensar que entre mim e esta senhora vai um mundo de diferenças e que o tempo se encarregou de nos afastar, mesmo sem nunca nos termos visto na vida. Aquilo que eu hoje não dispenso no comboio é, para ela, certamente, uma carrada de “modernices” e, para mim, aquele tricot é “do tempo da outra senhora”. Abro o site do Blogger para começar a escrever estas linhas. Ela remata cuidadosamente um dos cantos da peça que está a fazer. Entretanto, a viagem aproxima-se do fim. Desligo computador. Ela pára a dança das agulhas. Abro a mala e acondiciono o portátil. Ela enrola a linha que sobra de volta ao novelo. Para o fim, ficam o discman e a placa 3G que coloco com cuidado na caixa e esta na mala. Para o fim, ficam as agulhas e o papel fotocopiado (uma espécie de cábula com um modelo de napron) que coloca de volta na saca branca. Só quando nos levantamos para sair se cruzam os olhares destas duas (distantes) gerações. Esboçamos um sorriso mútuo e seguimos cada um o caminho que tem a seguir.
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1 comentário:
Só tenho duas palavras: gostei muito.
Beijo
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