sexta-feira

Pessoal vs. Profissional


I


Confesso que sou uma pessoa pouco dada a ter grandes amizades. Quero dizer… há pessoas na minha vida que considero grandes amigos mas sei que não sou um grande amigo para essas pessoas. E uma grande amizade é feita de reciprocidade. Logo, penso que o mais correcto é dizer que tenho fortes amizades; não mais do que isso. Num assunto que pode parecer nada ter a ver com a última frase, tenho a dizer que o meu EU é um todo; não separa o pessoal do profissional (sim… claro que tenho uma vida privada que é só minha mas a minha maneira de ser existe no EU Pessoal e no EU Profissonal de igual forma). Se estou bem pessoalmente, o trabalho sai melhor e vice-versa; quando algo vai mal na vida profissional, isso tem reflexo na vida pessoal e vive-versa também. Neste último ano – desde que vim trabalhar para Lisboa – não cultivei muitas (nem grandes) amizades. O meu meio pessoal coincide com o profissional e (muito embora haja pessoas com quem me sinta muito bem a conversar, partilhar experiências, sucessos, insucessos, perspectivas e frustrações) isso – não sendo mau – traz-me aqui e ali alguns dissabores. O maior aconteceu hoje e, devido a ele, acabo o dia triste muito para além do que esta manhã imaginei ser possível. Por considerar amigo alguém com quem trabalho e que muito admiro, acabei por me colocar numa posição terrível ao fazer uma piada pessoal com algo que, pelos vistos, soou a insulto profissional. Os planos (níveis, espaços, círculos… como se lhes queira chamar) misturaram-se e a coisa não coreu bem. Estou (muito) triste por isso. E tenho a sensação de que a minha vida pessoal e profissional vai mudar a partir deste momento.


II


Como profissional da Comunicação Social e pessoa – fora do trabalho – interessada pelo que vê e ouve acerca do que se passa no Mundo… estou indignado. Muito. Diria… imensamente… e não estaria a mentir. Uma criança britânica terá sido, alegadamente, raptada numa estância turística no Algarve na noite de quinta-feira. Um drama, não haja qualquer dúvida de que é. Mais ainda quando tudo se terá passado “nas barbas” dos pais que – qual incúria! – foram jantar a um restaurante “ali ao lado” e deixaram a filha de três anos e os dois filhos gémeos (de dois) a dormir, sozinhos, no apartamento (um rés-do-chão) da estância que até oferece aos seus cliente um serviço de vigia a crianças quando os pais querem sair à noite – serviço de que o casal britânico decidiu prescindir. Um drama, de facto. Mas a minha indignação maior não é para com os pais negligentes que agora choram baba e ranho pelo desaparecimento da filha e cuja família – lá longe, na Escócia – ainda se dão ao trabalho de mandar “postas de pescada” acerca do que as autoridades portuguesas estão a fazer de mal – segundo eles, tudo. Não. É para com a patetice que as televisões fizeram (e estão a fazer) cá e lá. É absolutamente incrível que as nossas três estações de televisão tenham aberto os seus jornais de “prime time” com dez (10!) minutos de notícias e directos sobre o desaparecimento de uma criança britânica quando não o fazem para noticiar o desaparecimento de crianças portuguesas (que os pais certamente não terão deixado sozinhas para irem jantar ao restaurante). O tema “Alegado Rapto” abre jornais quando se trata de uma criança estrangeira mas não quando a criança é portuguesa. Extraordinário. Quase tanto quanto a BBC World e a SKY News terem estado todo o dia a fazer notícia do desaparecimento da menina no Algarve quando não o fazem (pelo menos, não daquela forma) com desaparecimentos em território britânico. Não quero ser mal entendido: eu estou, de facto, preocupado com o bem-estar da criança, que espero seja encontrada rapidamente e bem. No entanto, parecemos estar todos à beira de um incidente “mass medio-diplomático” porque um casal britânico se armou aos cucos, foi jantar, deixou os três filhos sozinhos no rés-do-chão do apart-hotel, de janela semiaberta, com as consequências que se conhecem.

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